segunda-feira, 21 de julho de 2008
VALE DO AÇU
A Secretaria Estadual do Desenvolvimento Econômico (Sedec) e a Câmara de Dirigentes Logistas (CDL) de Assu fecharam um convênio com a Petrobrás para ser a patrocinadora oficial da V Feira de Negócios do Vale do Açu, que vai acontecer de 31 de julho a 2 de agosto, na praça Getúlio Vargas, em Assu.
Presente desde a primeira edição, a Petrobrás já havia anunciado, desde o ano passado, sua intenção em contribuir mais ainda com a realização da Feira, reforçando sua presença na economia da região e interagindo cada vez mais com os empresários locais.
A partir deste ano, a Feira de Negócios ganhou em sua programação uma nova proposta de qualificação e treinamento profissional que vem acontecendo desde o último dia 3 de julho.
O projeto intitulado "Super quinta feira de empreendedorismo e de negócios do Vale do Açu" é aberto ao público e acontece uma vez por semana até o início da Feira, no escritório regional do Sebrae.
São atendimentos personaliados e que ocorrem sempre no período da manhã, além de palestras à noite.
Na quinta-feira (17), a Petrobras e o Sebrae orientaram empresários de todas as áreas produtivas a realizarem os seus cadastros para tornarem-se, de acordo com as exigências legais, novos fornecedores da empresa.
"O objetivo principal está em canalizar o maior volume de recursos de suas compras para as empresas com sede no Rio Grande do Norte, criando maior vínculo com as diferente cadeiras produtivas no Estado", informa Otomar Lopes Cardoso Júnior, coordenador de feira.
A comercialização dos últimos estandes da Feira, que deverá repetir os mais de 100 estandes das edições anteriores, está sendo finalizada pela CDL de Assu.
Estão confirmadas empresas dois segmentos de moda, comcessionárias, supermercados, saúde, alimentação, material e implementos agrícolas, educação, eletrônica, entre outros, além do tradicional artesanato do Vale do Açu.
A programação cultural e artística, também renovada em sua proposta para o ano de 2008, será divulgada ofialmente na próxima semana, com a expectativa de novas atrações e novidades para o público, estimado em 40 mil pessoas durante os três dias do evento. Um evento que deverá incrementar a economia assuense e gerar empregos diretos e indiretos durante o período da feira empresarial.
(Artigo transcrito do jornal Potiguar Notícias, de Parnamirim, edição de 21.6.2008)
sábado, 19 de julho de 2008
JORGE FERNANDES, UM POETA MODERNISTA
Emboladora do sono...
Balanços dos alpendres e dos ranchos...
Vai e vem nas modinhas longorosas...
Vai e vem de embalos e canções...
Professora de violões..
Tipóia dos amores nordestinos...
Grande... longa e forte. pra casais
Berço de grande raça
SUSPENÇA...
Guardadoras de sonhos
Pra madorna ao meio-dia
Grande... côncova...
Lá no fundo dorme um bichinho...
- ô... ô... ô... ôô... ôôôôôôôôô...
- Balança o punho pro menino durmir...
Bem como este outro poema sob o título Remanescente, transcrito abaixo:
Sou como antigos poetas natalenses
Ao ver o luar sobre as dunas...
Onde estão as falanges desses mortos?
E as cordas de violões que eles vibraram?
- Passaram...
E a lua deles ainda resplandece
Por sobre a terra que os tragou
E a terra ficou
E eles passaram!
E as namoradas deles?
E as namoradas?
São espectros de sonhos...
Foram braços roliços que passaram!
Foram olhos fatais que se fecharam!
Ah! Eu sou a remenescença dos poetas
Que morreram cantando...
Que morreram lutando...
Talvez na guerra contra o Paraguay!
segunda-feira, 7 de julho de 2008
ARTIGO
Djalma Aranha Marinho nasceu vocacionado para servir ao parlamento na plenitude democrática ou ameaçado pelas intérpéries ocasionais do autoritarismo. Com prudência e saber jurídico deu sua colaboração ao país quase à beira de colapso constitucional em 1961, quando os militares se opuseram à posse do seu vice-presidente João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros. Foi o relator da emenda constitucional que instituiu o parlamentarismo e evitou o impasse que teria gerado um conflito imprevisível assegurando a posse de Goulart no dia 7 de setembro daquele ano.
Contrário a licença para processar o então deputado Márcio Moreira Alves solicitada pelo governo militar ao STF, naquela crise que resultaria na edição do AI-5 em 1968, defendeu com veemência a inviolabilidade da instituição, embora não tivesse concordado com o discurso inoportuno do deputado oposicionista. Valeu-se da frase do escritor espanhol Calderon de La Barca para concluir suas palavras na sessão histórica da Cãmara Federal no dia 12/12/1968: "Ao Rei tudo, menos a honra". Após o discurso, renunciou a presidência da Comissão de Justiça, em sinal de protesto ao gesto abusivo do abítrio.
Sentia-se bem no parlamento e útil a instituição na condição de guardião de suas prerrogativas constitucionais e na condenação aos excessos praticados por governos populistas com viés autoritário. Integrar aquela turma privilegiada pelo saber jurídico e intelectual, representava uma láurea consagradora.
O deputado Djalma Marinho integrou o grupo e foi bem recebido por todos. Destacavam-se, dentre outros, Carlos Lacerda, Afonso Arinos, Bilac Pinto, Pedro Aleixo, Miltom Campos, Aliomar Baleeiro, Prado Kelly, Adauto Lúcio Cardoso e Oscar Correia, para citar apenas alguns que se tornariam mais tarde juristas consagrados e ministros do Supremo Tribunal Federal. Na Câmara, as galerias superlotadas aplaudiam aqueles oradores que incendiavam o plenário da Casa pelo brilho da oratória demolidora e impecável. A "banda da UDN" tocava afinada com partitura até de olhos fechados.
Apesar da timidez que o caracterizava, avesso a qualquer tipo de publicidade, o parlamentar norte-rio-grandense conseguiu obter notoriedade entre seus pares, tendo sido indicado para as relatórias de projetos polêmicos como a fusão do estado da Guanabara com o Rio de Janeiro e da CPI do acordo Globo/Time-Life, este lesivo aos intereses nacionais, segundo afirmou o deputado em seu parecer. Desincumbiu-se airosamente das tarefas difíceis, contrariando poderosos, graças à responsabilidade de renomado jurista.
Iniciou sua vida pública como deputado estadual constituinte de 1946 pela UDN, ao lado de figuras como Dix-Huit Rosado, Mário Negócio, Gomes Lemos, José Gonçalves, Pereira de Macedo, José Xavier, Moacyr Duarte e outros. Obteria mais tarde sete mandatos de deputado federal. Perdeu duas eleições majoritárias que lhe marcaram profundamente: o governo do Estado paras Aluízio Alves em 1960 e o senado da República para Agenor Maria em 1974.
Mas, a derrota que mais o machucou foi a perda da presidência da Câmara Federal para o colega Nelson Marchesan em 1980, num momento em que o poder Legislativo massacrado pelo regime vigente começava a reagir à condição de vassalo do Executivo, que tantas vezes tinha estuprado sua autonomia em nome do arbítrio. A derrota mexeu com sua estrutura emocional. Morrera pouco tempo depois.
A sala da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara tem o seu nome. Hoje, foi homenageado lá, pela pasagem do centenário ocorrido no último dia 30. Uma lembrança justa a quem teve uma atuação marcante no parlamento nacional. Infelismente, no Rio Grande do Norte, a data foi completamente esquecida.
Lamentavelmente, temos desapreço à memória dos homens públicos que se portaram com correção na vida pública".
Autor: João Batista Machado
(Transcrito do "Jornal de Hoje", 7/6/2008)
quinta-feira, 19 de junho de 2008
É POTIGUAR DO ASSU, O REALIZADOR DA PRIMEIRA CAMPANHA ELEITORAL MARKETIZADA NO BRASIL
.
Tinha escritório à Rua Almirante Barroso, Centro do Rio, próximo ao Largo da Carioca e ao Teatro Municipal. Cid Pacheco figura que eu tive o prazer de conhecer no escritório da JMM, na capital carioca, era seu parceiro, outro gigante da propaganda moderna, do marketing político eleitoral no Brasil.
"Em 1954, dois candidatos polarizavam a disputa pela prefeitura de Belo Horizonte: Amintas de Barros, pelo PSD e Celso Azevedo, pela UDN. Foi o ano do suicídio de Getúlio Vargas, que estava em plena glória, mas também em pleno combate, um ano marcado por grande comoção política.
De propósito, nós esquecemos o outro candidato. Achamos que devíamos fazer campanha a favor do Celso Azevedo e não contra o Amintas de Barros. Eu nunca ocupei o nosso tempo e atenção do nosso ouvinte, do nosso eleitor, com histórias sobre o adversário. As histórias sobre o adversário sempre colaboram contra nós. Foi o esquema que deu certo.
Um comentário:
Valeu Caldas! Como neto do dr Amintas de Barros,se ainda hoje eu pudesse, como vim a saber pelo seu intermédio, era o pescoço deste grande expoente, o senhor Moacyr, que eu deveria apertar! Ora bolas...
domingo, 15 de junho de 2008
A MUTUCA
‘A Mutuca', antigo jornalzinho idealizado por Demócritico Amorim (Teté) que circulou em Assu nos anos 1967, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74 e 78, durante os festejos do padroeiro do Assu, São João Batista, divulgava os acontecimentos da cidade durante nove dias, satirizando as pessoas, os relacionamentos amorosos, entre outros assuntos relacionado am município do Assu. Amores erram feitos e desfeitos. Os poetas da cidade como Maria Eugênia, Renato Caldas, Francisco Amorim, João Fonseca e Boanerges Wanderley, entre outros, davam as suas colaborações, publicando versos amorosos, além de crônicas e artigos sobre a festa do padroeiro. Enilda de Souza (Nildinha), Perpétua Wanderley, Osvaldo Amorim e Walter de Sá Leitão também colaboraram com aquele citado periódico..
Revendo meus guardados, o meu pequeno acervo sobre
as coisas da minha terra natal – o Assu, deparo-me com uma das edições de A Mutuca, edição de 17 de junho de 1969 que, na sua primeira página, diz assim:
"Bôa noite habitantes dos Bairros Sítios e
Capelas, patrocinadores dos festejos hoje consagrados ao glorioso São João
Batista”.
Elementos integrantes da comunidade açuense, vocês, sabemos, empregar o melhor
das suas energias, de seu esforço e da sua dedicação para testemunharem ao
Santo, nosso Padroeiro a nossa fé cristã e nosso apelo às coisas de Deus.
Na quietude de seu bairro, nas suas conversas amigas, na vivência de uma
cordialidade amistosa o seu pensamento e a sua imaginação, por muito tempo se
comoveu na contemplação emotiva e encantadora do rodopiar de um balão
sanjoanesco que, na crendice popular, indica de acordo com a sua direção,
inverno futuro ou seca calamitosa.
Também vocês, moradores dos sítios distantes, a esta hora, depois de um dia
afanoso, cuidando do amanho da terra e da assistência às fruteiras em formação,
vocês também estão com a alma e o coração voltados para o Patrono de nossa
terra, pedindo bençãos e solicitando favores na esperança fagueira de uma
colhêta abundante.
Como tenho muito de cristianismo, tem algo de profano o novenário de São João
Batista, vocês habitantes dos Bairros Sítios e Capelas, no saborear das
pamonhas, canjicas e milho assado ao calor das fogueiras, no São João disse São
Pedro confirmou, prestam também o seu culto de veneração e respeito ao santo
que veio abrir os caminhos aplainar as veredas para a vinda do Senhor.
Daí, por tudo que vocês fizerem para homenagear o precursor do Messias,
recebam, habitantes dos Bairros Sitios e Capelas o nosso cordial e sincero BÔA
NOITE."
Postado por Fernando Caldas
POESIA SERTANEJA
Encontrando-me com um sertanejo
Perto de um pé de maracujá,
Eu lhe perguntei:
Diga-me como sertanejo,
Porque razão nasce branca e roxa,
A flor do maracujá?
Ah, pois então eu lhe conto,
A estória que ouvi contá,
A razão pro que nasce branca e roxa,
A frô do maracujá.
Maracujá já foi branco,
Eu posso inté lhe ajurá,
Mais branco do qui caridade,
Mais branco do que o luá.
Quando a frô brotava nele,
Lá pros confins do sertão,
Maracujá parecia,
Um ninho de argudão.
Mas um dia, há muito tempo,
Num meis que inté num me alembro,
Si foi maio, se foi junho,
Si foi janeiro ou dezembro.
Nosso sinhô Jesus Cristo,
Foi condenado a morrê,
Numa cruz crucificado,
Longe daqui como o quê,
Pregaro Cristo a martelo,
E ao vê tamanha crueza,
A natureza inteirinha
Pois-se a chorá di tristeza.
Chorava us campu,
As foia, as ribeira,
Sabiá também chorava
Nos gaio a laranjeira,
E havia junto da cruis,
Um pé de maracujá,
Carregadinho de frô
Aos pé de nosso sinhô.
I o sangue de Jesus Cristo,
Sangue pesado de dô,
Nus pé de maracujá,
Tingia todas as frô,
Eis aqui seu moço,
A estória que eu ouvi contá,
A razão proque nasce roxa,
A frô do maracujá.
Catulo da Paixão Cearense (de quem o poeta Renato Caldas é discípulo).
sexta-feira, 13 de junho de 2008
CATÔTA, DE MOSSORÓ
1 - Certa vez, certo cidadão praticava arruaças num dos bares do bairro Alto de São Manuel, em Mossoró. O delegado ao tomar conhecimento do fato, mandou Catôta resolver o problema. Ao chegar naquele botequim, aquele soldado foi logo dizendo: "Olha, meu amigo, eu trago ordem do delegado pra prender você. Vamos logo. "Taqui que você me prende." Disse o arruaceiro estirando o dedo médio. Catota respondeu e gesticular da mesma forma: "Taqui que eu lhe levo!" Botou o rabo entre as perna, no dizer popular, e escafedeu-se.
2 - Certa feita, Catôta foi designado para retirar as pessoas que estavam em cima do muro do Estádio Leonardo Nogueira (Nogueirão), de Mossoró, assistindo ao jogo Baraúnas X Potiguar. Times de futebol daquela terra oestana. Ao chegar naquele campo de futebol, Catôto gritou enfaticamente, cheio de autoridade, dizendo assim: "Ei, vocês aí cambadas, desçam do muro agora. Não pode ficar em cima, não. Ou pra fora ou pra dentro, em cima é que não pode" E todos pularam pra dentro do estádio.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
MAIS UM POETA ASSUENSE
Eu convivi com ela, Luluda, nos velhos tempos da Cooperativa Agropecuária do Vale do Assu que meu pai dirigia. Eu sabia que ele era (ainda no tempo da maquina de escrever) boa datilógrafa, além de contadora. Porém, não tinha conhecimento da sua arte de versejar que ela escondeu e somente veio a revelar na sua maturidade. Ela fez igualmente aos poetas Moisés Sesióm e Andière Abreu que veio a produzir e se revelar poeta na sua vida adulta. O trabalho literário de Luluda engrandece as letras assuenses. O soneto transcrito abaixo encontro no Blog de Ana Valquíria. Intitula-se 'Quisera'. Seus versos são amorosos, puros, verdadeiros, de versificação fácil. Senão vejamos o referenciado soneto:
Quisera eu dizer-te que sinto
Mas não posso e jamais o farei.
Por teu amor lutei e ainda resisto,
Não quero perder-te, senão morrerei.
Por mais que procuro te esquecer
Cousa que nunca eu consegui,
Mas sentia o meu amor crescer
Mas hoje sinto o que me iludi.
Iludi-me, sim, porque sempre tentei
Esquecer de um amor, que nunca procurei
Saber se me amava ou se me enganava.
E agora muito sofro a pensar,
Que um dia, não queiras me amar,
E que nunca a me amar procurou.
Em tempo: Querida Luluda: Aumente mais ainda a minha biblioteca e, para que eu possa divulgar mais o seu trabalho, remeta-me um livro de sua estréia. Aguardo ansioso a sua dedicatória.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
PAULINHO MONTENEGRO
Fernando Caldas
domingo, 1 de junho de 2008
SONETO
Terra Natal! É belo quando esplende
O azul de tua abobadada infinita
Torrão, no qual tanta beleza habita
Onde o piranhas plácido se estende.
Sertaneja cidade, em ti palpita
Um seio amigo e bom que a todos prende,
Teu campo é um ninho alegre que recende
Aos raios tropicais que o sol vomita
Nordestino rincão, valor genérico
De um povo. a resistir a intensidade
De terrível flagelo climatérico.
Ao vir do inverno, em vez do mal profundo
Pode se comparar tua bondade
A um pedaço do seu dentro do mundo.
sábado, 17 de maio de 2008
RECORDAÇÃO
No meu tempo, era só brincadeira
Ninguém falava em guerra
Ninguém sabia,
Se existia
Diabo de alemão
Tudo era esperança!
- Como a vida nos cansa! -
E, como a saudade nos faz bem
Ao velho coração.
O prazer que contém
Recordar, vale tudo na vida!
Minha vida vivida: -
Meu jôgo de Castelo, a vaquejada,
O brinquedo de arraia...
Ah! velho tempo mau!...
Que saudade danada,
Do cavalo de pau.
Tudo era esperança...
Minha mestra França,
A palmatória...
Quem me dera de novo
Meu povo,
Uns bolos apanhar
Para poder de tudo recordar.
Vou contar uma história:
O Circo de Sansone,
- Alvo como madapolão -
Estava armado,
Como um funil de pano emborcado,
Bem no meio da Praça da Proclamação.
No dia do espetáculo,
- Um obstáculo,
Veio de encontro a mim -
Minha avó não podia - coitada,
Por falta de dinheiro
Pagar a minha entrada.
Terrível desengano!
Que fazer?
Fui forçado a meter,
A cabeça, por debaixo do pano.
E lá dentro, que alegria taful!
Um bocado de gente,
Assim na frente,
Dava alguns vivas ao cordão azul.
Do outro lado,
Todo mundo gritava: o encarnado.
Depois, a artista do azul apareceu.
A platéia, toda estremeceu.
Então,
Um cidadão,
Fez um discurso danado de comprido
E, entregou à mocinha,
Um bonito vestido;
Ela, agachou-se toda e saiu.
De repente,
Como se fosse uma alvorada,
Bem na frente,
Uma outra surgiu.
No meio do picadeiro,
A morena estacou.
Todo mundo vivou...
Um velho jornalista,
- Nesse tempo era moço -
Fez, para a artista morena,
Um discurso colosso.
Ao terminar sua linda oração,
"Curvou-se reverente"
E foi beijar-lhe a mão.
... Eu fiquei despeitado.
Não dei nem mais um viva
Ao cordão encarnado.
Fiquei desiludido...
A morena bonita não ganhou
Nem sequer um vestido.
O encarnado apanhou!...
Mas, o tempo passou...
Toda gente esqueceu!
Menos eu.
Naquele tempo, o encarnado venceu.
Quinita,
A morena bonita,
Morena sensação,
Ganhou da inteligência,
Um beijo, em sua mão.
Renato Caldas
domingo, 11 de maio de 2008
AS BOAS DE CHICO DIAS
2 - O povo assuense passou uma época em polvorosa e aflita. Pessoas de bem eram assassinadas naquela cidade, por qualquer futilidade. Pois bem, Chico Dias em 1982 perdera na morte um certo amigo e eleitor. Na hora da última despedida, no cemitério da daquela cidade, despediu-se do amigo com essas palavras: "Meus amigos, estão matando gente nesta cidade por motivos fúteis. O réu vai a julgamento, alega legítima defesa e é absolvido." E repetidamente acrescentou estas palavras de sentimento e de revolta: "Legítima defesa, legítima defesa, legítima defesa uma porra!" Para risos dos circunstantes.
3 - Chico Dias (não quero com essa estória, absolutamente denegrir a sua imagem não). Ele é meu amigo e este fato ocorreu há uns trinta anos atrás. Pois bem, inadimplente com o Banco do Brasil, agência de Assu, foi surpreendido pelo gerente daquela casa bancária que lhe disse ao vê-lo circulando por aquela casa bancária: "Seu Francisco, o senhor está com um título em atraso com este banco e, se não for quitado daqui a quarenta e oito horas, eu vou botar o seu nome no CADIN (Cadastro de Inadimplentes)!" Chico não se fez de rogado: "Seu Gerente, pois diga a Seu CADIN que pague a minha dívida!"
domingo, 4 de maio de 2008
UM POETA GLOSADOR
Disse o quanto me queria
Que por mim faria tudo
Eu a ouvia quase mudo
Enquanto a lua sorria.
E logo após me pedia
Para amá-la de verdade
Porém na realidade
Previa a separação
E o meu pobre coração
Sentia a dor da saudade.
Majó tem três livros publicados. A sua obra de estréia intitula-se "Uma Grosa de Glosas", 1991, volume prefaciado por Celso da Silveira que na sua observação entende que o poeta "é perfeito no seu raciocínio quando desenvolve os dez versos da glosa e há, em sua produção no gênero, alguns achados e invenções que ressaltam o seu trabalho de juntar preciosas pedras com que constrói suas glosas".
Ela teve o que queria
Embaixo da oiticica
Levando um rolo de pica
Chorava, ria e gemia.
Em êxtase e alegria
Com pica na frente e atrás
Bem agarrada ao rapaz
Num gozo estupendo
Mexendo e se contorcendo
Gostando e querendo mais.
Ele publicou ainda o volume intitulado "Mote Di-Versos", 1997, com orelha de João Batista Machado que no seu entender, Majó "está no mesmo nível de um Moisés Sesiom, Manuel de Bobagem, João de Papai, Luiz Xavier e Antônio Souto".
Vou deitado mas, ativo
Olhando bem pra vocês,
Já que só morro uma vez
Quero ouvir música ao vivo.
O momento é emotivo
Mas temos que superar
Cantem sim, quero escutar
Letras lindas de seresta,
Façam pra mim uma festa
Quando forem me enterrar.
Majó tem ainda publicado o livro sob o título "Minha Terra, Minha Gente", 2001 (poemas), apresentado por Luiz Carlos Guimarães e orelha de Luciano Herbet que inicialmente diz Andière "é uma dessas figuras raras que o sertão velho de guerra produz e oferece de mão beijada para o mundo".
O sertanejo é feliz
Pois ele mesmo é quem diz
Que vive muito contente,
Ri demais, conta piada,
Brinca com a filharada,
Vive para sua gente.
De tudo sabe e entende,
Com ele muito se aprende
Sobre arroz, milho e feijão,
Fala calmo, compassado,
Estórias conta um bocado
Os causos do seu sertão (...).
sexta-feira, 25 de abril de 2008
BOINH0, O POETA DA RUA
Hoje vivo torturado
Perdi tudo em minha vida
Perdi a jovem querida
Para falar do passado
Quando moço fui beijado
Vivo hoje nos escolhos
Sou tampa sem arrolhos
Velho gemendo com dor
Por causa de um grande amor
Molho com lágrimas meus olhos.
Postado por Fernando Caldas
terça-feira, 22 de abril de 2008
LEMBRANDO JOÃO FONSECA
Eu não lhe posso pagar
Pois você está imundo
Vá primeiro se banhar
Pra receber pelo 'fundo.'
sábado, 19 de abril de 2008
WALTER DE SÁ LEITÃO, DE NOVO
Walter era proprietário de uma fábrica de pré-moldados (hoje de propriedade de seu filho Carlos Alberto, conhecido na intimidade como Juca). Um certo peão daquela empresa, certo dia se dirigiu a Walter para um entendimento com a seguinte com a seguinte reclamação: "Seu Walter, eu trabalho o dia todo e o seu filho que não vem nem aqui, ganha muito mais do que eu! Não dá pro senhor aumentar o meu salário, não!" E Walter com aquela sua irreverência, não se fez de rogado": "Você deixe eu fazer com sua mãe o que eu faço com a dele?"
Na qualidade de prefeito do Assu (1972-75), uma certa esposa de um certo motorista daquela edilidade assuense, adentrou no gabinete do prefeito para adverti-lo: "Seu Walter, olhe. Fulano de tal está toda noite no Cabaré "Chão de Estrela", no carro da prefeitura!" Disse-lhe aquela mulher enciumada, denunciando o marido mulherengo. Ai Walter saiu-se com essa, que logo se espalhou pela cidade inteira: "Aquele filho da puta nunca que me chamou"!
Fernando Caldas
sexta-feira, 18 de abril de 2008
PENSAMENTOS
- Cantai lindo pássaro. Cantai amorosamente a vossa alegria. Assim que se é pássaro.
- A vida incide aflitivamente. É a concessão irrefreável.
- Errar é comigo. Nunca acerto convosco.
- Oh vida! Os teus milagres nem sempre são doçuras, mas não me dês tanto! Não me dês tanto, tanto! Não me dês tanto, tanta amargura.
- Com esses olhos grossos de chuva eu quero chorar.
Escreveu João Lins Caldas
terça-feira, 15 de abril de 2008
TERÇA FEIRA
Quem seria aquele homem, amigo e contemporâneo de Olavo Bilac, Da Costa e Silva, Alberto de Oliveira, Tasso da Silveira, Mário Pederneiras da Silva, Alberto de Oliveira, Hermes Moreira, Murilo Araújo, Hermes Fontes, Osvaldo Aranha, Lima Campos e José Geraldo Vieira?
Quem seria aquele homem que amava os animais, convivia com eles, conversava com eles, como se fôsse o povorelo de Assis?
Quem seria aquele homem, quase réplica de São João Batista (padroeiro do seu povo) comendo gafanhoto e mel silvestre, também como ele, um caniço agitado ao vento?
Quem seria aquele homem que acreditava na encarnação e dizia e repetia que as palavras não se perderiam nunca, que um dia todas elas voltariam gravadas eletronicamente pelo absoluto?
Quem seria aquele homem, abandonado ao sonho, sonhando frutos e legumes na mesa de todos, sonhando pássaros cantando, calculando produção, vislumbrando exportação, numa terra bíblica para ele, onde o cordeiro e o lobo conviviriam um dia e que ele a chamou de Frutilândia?
Quem seria aquele homem, "ansioso por conhecer o outro lado", mistura de eremita e visionário, um pouco de demônio e muito de Deus, cujos versos já foram declamados na BBC de Londres?
Quem seria aquele homem que foi-se embora pra Frutilândia, mais bela do que Pasárgada, mais distante do que os asteróides de Saint-Exupery?
Quem seria aquele homem, cujos versos as escolas não conhecem e cujo nome não enfeita nem as praças, nem as avenidas, nem as portas dos botequins?
Se eu fosse prefeito do Açu, cada rua teria o nome de um poema de João Lins Caldas. Uma se chamaria Ïsabel"; outra, "Quando Laura Morrer", a praça do cemitério se chamaria "Sinfonia Negra"; o clube se chamaria "Dentro do Sonho"; a praça da matriz, "Deus Tributário"; o quartel, "Litanias de Um Doido"; o acesso à cidade "Chão de Enterro", o hotel se chamaria simplesmente "A Casa".
Se eu fosse prefeito do Açu, colocaria os poemas de João Lins Caldas nas estradas, nas pedras, nas porteiras, nas despedidas, nas saudações, e a quem não se confessasse convencido, eu repeteria o seu diálogo:
"Consola-te. Afinal não há mais nada".
Não há mais nada? E o coração da gente?"
Se eu fosse prefeito do Açu, eu pederia ao DNOCS para que o projeto de Irrigação se chamasse Frutilândia e que os técnicos antes de percorrer o vale, tivessem em suas mãos o sonho de João Lins Caldas:
Como essa manhã me acorda com os passarinhos
Que matinal de árvores e de pássaros
Pinga o orvalho das folhas como pérolas trêmulas, molhadas,
Cardeiros à distância e perto a cerca fulfa dos cercados.
No terreiro da casa, as galinhas ciscandos
Um pio de nambu é remoto à distância...
Ouço e vejo lá fora... há como que em mim um anseio de embriagado.
Vontade de correr, andar, ser como um pequeno cabrito a saltar pelo relvado...
O milho verde a subir, a cana grossa, o espigar das bonecas...
O louro-roxo do cabelo aqui e ali pelos ventos levado...
Parado... o ar aqui, agora, um ar parado...
Nem um grilo a trilar nem um mover de folhas...
Sáio... acendo o cigarro... as mãos trêmulas de gozo...
Isso que aqui plantei, que as minhas mãos cavaram...
cajueiros aos cem, azeitonas, mangueiras...
Ah! Se eu tivesse na vida como aqui sempre plantado.
E vejo, no crescer, pequena, a laranjeira
Tão verde no buraco fundo que lhe foi cavado
A minha laranjeira! A minha laranjeira!
Os frutos que dará encantando o cercado.
Meu rancho, ali, os potes na biqueira...
Pobreza assim riqueza só... um dia
Reposarei em mim essa pobre cabeça de cansado...
Lembrarei meus veros, direi versos para mim e para o céu estrelado...
A noiva que não tive... e recordo sem mágoa
Aquela que passou, culpa de mim que somente
Vão em cortejo ao olhar do meu pensamento, sombras vagas.
Arina! Um filho pela mão... lá atravessa seu filho...
E os filhos que não dei, as almas culpa de mim que não vingaram
Basta... volto-me ao sítio do meu silêncio proclamado
É a música de tudo em tudo que de mim, na sua essência...
O sol... o sol dessa manhã é agora todo o meu cuidado.
Olho o sol... a ânsia de talvez de pelo sol perder-me
E já não ser de tudo aquele mundo todo nas raíses...
As árvores que quero ver... as pequenas plantas que quero ver dos meus pequeninos berços elevadas.
E olho-as... as minhas crianças verdes, as minhas romanzeiras enramadas...
O cigarro se apaga, a fumaça não sobe...
Vamos entrar o rancho, agitar gravetos, fazer o fogo...
E brinquedo, o meu cão, que aqui por esse andar me tem sempre acompanhado...
Olhos aos olhos do cão... não, Brinquedo que nem sempre tem me acompanhado.
Agora eu entendi porque João lins Caldas disse certa vez: "O Açu é meu inferno".
Agora eu entendi porque em Bauru, ao ouvir em 1932, VIVAS a São Paulo, ele cortou a multidão como um relâmpago inesperado: "Alto lá! Viva o Brasil!"
Agora eu entendi os seus telegramas malcriados ao ditador Vargas e o seu voto permanente (mesmo que ele não fosse candidato) a Eduardo Gomes.
Agora eu entendi porque ele admirava tanto Carlos Lacerda e de repente em 1964, eliminou-o de sua convivência mental.
Agora eu entendi. Ele nasceu impregnado climaticamente de liberdade. Não foi por acaso que João Lins Caldas nasceu em 1888".
José Luiz Silva
(Do livro "Apesar de Tudo", 1986)
sábado, 5 de abril de 2008
O ESPETÁCULO DAS ÁGUAS!
Seu moço, inda me alembro...
Me alembro cuma ninguém:
- O tempo véio num léva
Aquilo qui se quiz bem,
Nem hai dinheiro qui págue
Um amô qui a gente tem.
Faz muito tempo, seu môço,
Nós morava no sertão...
E a sêca véia danasca
Veio qui nem um ladrão:
Furtando os verde das fôia,
Rôbando ás águas do chão.
E, a sêca, qui levô tudo,
Qui quage acaba o sertão!
Trôve alegria, seu môço
Pru meu pobre coração...
E o marvado do inverno
Levô sem tê precisão.
Mecê num sabe o qui foi,
Eu vou dizê a mecê:
- Um dia de tardinzinha,
Ante do escurecê,
Tava na porta do rancho,
Pensando nem sei em quê?
Quando aparece na estrada,
Lá pras bandas do grotão,
Um bando de arritirante...
Seu môço, era um bandão!
E no mei daquela gente
Vinha a minha perdição.
Uma cabôca fermósa...
Tão bonita... cuma o que?!
Os óio, os cabelo dela,
Eram pretos de duê
E o resto daquele anjo,
Num tem quem possa dizê.
Apois bem: só pruque ela
Veio sê minha alegria,
Deus de inveja, de ciúme,
Mandô chuvê todo dia...
Inrolô um mêz chuvendo!
Quage a terra amolecia
Ficô logo tudo verde!
Logo. os riacho correu.
A cabôca foi simbora
com tudo que era seu
E ainda levô cum ela,
Argum pedacinho meu.
Levô foi tudo, seu môço:
A alegria do Sertão,
As notas daquela viola,
O batê do coração
Desse cabôco sarado
Nascido lá no Grotão.
É, cuma quem tem, seu môço,
Uma vasante aprantada...
Adespois, vem uma enchente,
Leva tudo na inxurrada
- Apôis eu tinha nos peito,
Uma vasante aprantada.
Ah! inverno miserave,
Inverno véio ladrão!
Truvésse o verde das foia.
Truvésse as águas do chão...
Mas, carregô na inxurrada,
O meu ppbre coração.
sexta-feira, 4 de abril de 2008
INDIO JANDUI
Meu patrimônio, ele só,
Riqueza que não se acaba,
Tem a várzea e o piató
Peixe, banho de lagoa
Riqueza que se conta a mais,
Bem vastos carnaubais.
Filho da terra dileta
O bravo de Curuzu
Nosso, um destino poeta,
Grandeza que é mesmo Açu.
João Lins Caldas
17 de abril de 1967 (um dos seus últimos versos).
sábado, 22 de março de 2008
"TRILOGIA DO COTIDIANO - CRÔNICAS, PERFIS E CAUSOS"
Naquela edição, Valério faz referências aos escritores potiguares do Assu como Celso Da Silveira (já falecido) e João Batista Machado, ambos merecedores de muitas honrarias que nunca pediram aos assuenses e ao Rio Grande do Norte, mas que tanto merecem.
Quero, portanto, deixar registrado que nós assuenses precisamos lembrar mais os nossos poetas, escritores e jornalistas que dignificam e engrandecem a literatura, a cultura e a História do Rio Grande do Norte. Vamos conferir o que disse o escritor Mesquita sobre Celso e Machadinho, respectivamente:
50 ANOS DE "ARTES"
É o título jocoso e lírico da exposição que o escritor Celso da Silveira exibe na Capitania das Artes, de 22 de abril a primeiro de maio.
Celso é um patrimônio vivo da Cidade de Natal. Desde a sua vida boêmia ao lado de Berilo Wanderley, Luís Carlos Guimarães, Newton Navarro, Sanderson Negreiros, Veríssimo de Melo, José Melquíades, Albimar Marinho, Djalma Maranhão e tantos outros
que a memória não alcança, passando por Câmara Cascudo, o bardo assuense assinalou a sua presença na poesia, na vida pública, na trova, no teatro, na literatura, na pesquisa, no jornalismo, com inteligência, criatividade e bom humor.
O gordo é uma expressão lídima de ecletismo cultural que não tem similar na atual geração de intelectuais. Certa vez, perguntei-lhe por que nunca se candidatou à Academia de Letras. "Para preservar a minha rebeldia. Quero caminhar livre e independente", respondeu com aquele sotaque do tempo do Solar da Baronesa do Vale do Assu. Celso nunca renegou as suas raízes telúricas. Sente-se bafejado pelo vento carpidor e inspirador da "terra dos poetas", que produziu Moisés Sesiom, Renato Caldas e Chisquito.
Lembro-me, quando assumi a Presidência da Fundaçõa José Augusto, em outubro de 1980, ao terminar o discurso de posse, Celso quebrou o protocolo e pediu a palavra. Tomei um susto. Logo imaginei que podia ser esquisitice de poeta, exatamente no momento inaugural de minha estréia. E na presença das mais altas autoridades do dito mundo intelectual e administrativo de Natal, Celso me deu "conselhos" de forma desembaraçada e desimpeida. Mais um ponto para a sua marca registrada, a sua logomarca: a irreverência. Depois, pegue "whisky", ao lado de Evilásio Leão de Moura, Racine Santos sob o olhar de mormaço de Deífilo Gurgel.
Se o eleitor desejar saber sobre o que Celso da Silveira escreveu, aproveite os últimos dias da exposição. Vá à Capitania das Artes. Afinal, são cinquenta anos de "artes" que esse gordo travesso produziu e que teve por um tempo, em sua vida, uma estrela guia, estrela manhã, lânguida anunciadora do dia e da poesia: Myrian Coli, que lá está, também.
MACHADO NO IHGRN
A formação jornalística de Machado de Assis moldou-lhe o estilo e a visão do Brasil do seu tempo. Câmara Cascudo, o grande Cascudo, inesgotável na abrangência de sua obra, aprimorou o seu estilo, inconfundível, leve, aliciante, conciso e agradável, ao escrever, diariamente, as suas "Actas Diurnas". Ali, nas páginas inesquecíveis da "República", está, dia a dia, a História do nosso povo, de nossa sociedade, por um período marcante do século XX. Mas também os sentimentos humanos que adquiriram e revelaram sua abrangência universal. Refiro-me ao sentir e ao sonhar dos povos, em escala planetária, entre duas grandes guerras, no transcorrer da Segunda Guerra Mundial e a construção de um novo mundo após, o cataclisma de destruição gerado pelo ódio e pela insanidade dos homens.
Eis o universo, complexo e desafiador da vida profissional de João Batista Machado. Aquele rapaz, inquieto e idealista, que deixou a sua querida cidade de Assu, na década de 1960, para realizar seus sonhos em Natal. sua vocação se revelou espontaneamente. Foi uma opção de vida. Seu salto para a maturidade, exaurindo prematuramente sua adolescência, ocorreu ao exercitar o jornalismo na tribuna do norte. Nos anos 70, jornalista reconhecido e disputado, realizando inesquecíveis reportagens e entrevistas com os grandes homens públicos do Estado, encontrava-se no primeiro time do Diário de Natal. Naqueles tempos, o jornalista, além do compromisso com a verdade e a preservação de sua dignidade profissional, tinha que conviver com os constrangimentos emanados da conjuntura político-institucional. João Batista Machado jamais sucumbiu nos seus vales e nos seus compromissos ético-profissionais.
Cascudo, comentando em tom jocoso o quotidiano do viver em Natal, dizia que "nesta cidade tudo se vê, tudo se ouve, nada se esconde". O conceito profissional como jornalista digno e competente foi o referencial que levou o governador Tarcísio Maia a convidar João Batista Machado para assumir e exercer em seu governo o cargo de Assessor de Imprensa. Do mesmo modo nos governos de José Agripino, Maia, Radir Pereira, e Vivaldo Costa. Também exerceu o cargo de Assessor de Imprensa da Federação do Comércio do Rio Grande do Norte e do sistema SESC/SENAC. Atualmente é Diretor de Comunicação Social do Tribunal de Contas do Estado.
Carlos Castelo Branco, que, através de sua coluna diária no "Jornal do Brasil", registrou e analisou a nossa História em 50 anos do século XX, dizia que o jornalista é ao mesmo tempo personagem e espectador da História.
E por falar em Castelinho, o genial jornalista que reinventou o jornalismo político no país com brilho e credibilidade informativa, devo dizer que o João Batista Machado também assim procedeu com relação ao Rio Grande do Norte, tanto através de suas reportagens ao longo do tempo, como através dos seus livros. E registro, igualmente, a simpatia e apreço que o pequeno grande jornalista piauiense, devotava ao seu colega de Assu, amizade construída em Natal em 1982, quando aqui veio em missão profissional, deixando os dois, como não poderia deixar de ser, pelos bares e restaurantes natalenses, a marca registrada do consumo do melhor escocês. Quatro anos depois, Machado precisou retificar uma notícia veiculada na célebre coluna de Castelo no Jornal do Brasil a respeito da política do RN. E para merecer uma acolhida "in totum", nessa coluna, só quem desfrutasse efetivamente de prestígio político e cultural ou de estima pessoal do renomado jornalista. O nosso João Batista ocupou o espaço que a amizade e a admiração do seu colega lhe permitiam na edição do Jornal do Brasil de quarta-feira, 17 de setembro de 1986, através da transcrição de um longo esclarecimento.
João Batista Machado fez História. Seus livros, todos eles, preservam a memória política do nosso Estado. Dá-lhe vigor e autenticidade. Assim se sucederam "De 35 ao AI-5", "Política no atacado e no varejo", Anotações de um repórter político", "Como se fazia governador durante o regime militar", Anotações de um repórter político", Como se fazia governador durante o regime militar", "1960: Explosão de paixão e ódio" e "perfil da República no Rio Grande do Norte. A sair, Testemunhas de Ausentes (48 perfis).
A vida profissional e a obra de João Batista Machado, limpo e isento, há muito tempo, tornaram-no membro desta casa. Sua posse formal, pública e solene, é apenas mais um gesto de reconhecimento e gratidão da sociedade a quem tanto ilustra e honra, com seu exemplo de jornalista ético e competente, de uma conduta pessoal feita de dignidade, e sua obra, documento vivo e imperecível da nossa História.
quinta-feira, 20 de março de 2008
JOÃO LINS CALDAS
"Nascido no município de Goianinha, RN, no dia 1º de agosto de 1888, João Lins Caldas é mais um dos grandes injustiçados da literatura norte-rio-grandense. Ainda hoje, passados mais de quarenta anos de sua morte, o conturbado homem de engenho e sonetista de escol permanece num vergonhoso esquecimento. Afora a publicação de "Poética" (1975), antologia postumamente organizada por Celso da Silveira, nada mais o Rio Grande do Norte fez pela sua obra e memória. Sem livros publicados em vida, marginalizado e ignorado em seu próprio Estado, sua poesia jamais se ajustou a nenhuma escola ou vertente literária. Quando muito, constato ao longo dos seus versos um modernismo simbolicamente parnasiano. No Rio de Janeiro, para onde se transferiu em 1912, João Lins Caldas viveu dias incertos e padeceu privações. Colaborou com os principais veículos de comunicação daquela época, a exemplo do jornal "O Malho" e da revista "Fon-Fon". Na Cidade Maravilhosa, entre outros, tornou-se amigo do romancista José Geraldo Vieira, de quem reproduzo o seguinte testemunho: "Pobre, emigrado do Nordeste, conheci-o ao tempo de Lima Barreto, Hermes Fontes e Antônio Torres, na porta da Garnier. Trabalhava como revisor de jornais à noite; vivia na Biblioteca Nacional, de tarde; almoçava e jantava sanduíches de mortadela e caldo de cana, na Galeria Cruzeiro. De volta à terra natal, trazia na bagagem inúmeros desenganos e vasta produção inédita. Entre seus livros não publicados, Rômulo Wanderley menciona "Deus Tributário", "Casa de Pássaros" e "Pulso de Febre". Esquecido e ignorado pela intelectualidade potiguar, João Lins Caldas faleceu em Assu aos 19 de maio de 1967".
LIVRO PERDIDO
Eu tinha o livro irmão desses cadernos,
Que tenho hoje espalhados na gaveta
Era escrito por mim com tinta preta
Tinha sonetos amorosos, ternos...
Branco, continha os madrigais eternos
Que nos lembra a saudade de um poeta...
Nele brilhava, lânguida, secreta
Toda min'halma de gelidez de invernos...
Um dia o livro me caiu dos dedos...
Arrastando consigo os meus segredos
Foi-se esse raio do meu morto brilho...
Fui procurá-lo loucamente aflito
E pela estrada ressoou meu grito
Lembrando um pai que procurasse o filho...
sábado, 15 de março de 2008
"SAÚDE NO FIOFÓ"
No tronco do ser humano
Nos finá mais derradêro
Tem uma rosquinha enfezada
Que quando tá inframada
Incomoda o côipo intêro.
Se tussí se faz presente
Se chorá se faz também
O caba não pode nada
Cum nada se entretem
Eu lhe digo, meu cumpade,
Não deseje essa maldade
Pra "rosca" de seu ninguém.
Não sei o nome da cuja
Desta cuja eu tiro o já
O que resta é quase nada
Bote o nada na parada
Quero vê tu aguentá.
Eu lhe digo, meu cumpade,
Que é grande humilhação
Um caba do meu quilate
Adoecido das parte
Fazê uma operação
Não suportando mais dô
O meu ato derradêro
Foi procurá um doutô
De "bocá de arenguêro
De bocá de arenguêro
Fejoêro e Fiofó
Bufante, Fresco e Lôrto
Apito, Brote e bozó.
De Furico e Fedegôso
Piscante, Pelado e Bóga
Fosquete, Frinfra e Sedém
Zuêro, Ficha e Vintém
De Ás de Copa e de Fóba.
De Oiti, Ôi de Porco
Ané de Couro e Caguêro
De Gira-sol e Goiaba
Roseta, Rosa e Rabada
Bôto, Zéro e Mialhêro.
De Nó dos Fundo e Buzéco
De Sonoro e Pregueado
Rabichol, Furo e Argola
Ané de Ouro e de Sola
Boca de Véia e Zangado.
Um doutô de Aro Treze
De Peidante e Zé de Bóga
Que não aperte o danado
Nem deixe com muita folga.
Um doutô piscialista
Em Bocá de Tarraqueta
Doutô de Quinca e Dentrol
Zebesquete e Carrapeta.
Doutô de Rosca e Rosquinha
Tareco, Frasco e Obrom
Ceguinho, Butico e Zero
Tripa Gaitêra e Fon-Fon.
Mialhêro e Mucumbuco
Buraco, Brôa e Boguêro
For Ever. Cruaca e Urna
Gritadô, Frande e Fuêro.
Cano de Escape e Pretinho
Rodinha, X.P.T.O.
Zerinho, Subiadô
Tripa Ôca e Fiofó.
De Joli de Zé de Quinca
Canal 2 e Cagadô
Buzina, Vesúvio e Cego
Federá e Simsinhô
Fagulhêro e Zé Zuada
Rosquete, Fim de Regada...
... Eu só queria um doutô.
O doutô se preparou-se
Parecia Galileu
Aprumou um telescópio
Quem viu estrela foi eu
Ele disse arribe as perna
- Tenha calma, sonho meu
A parti daquela hora
Perante Nossa Senhora
Não sei o que sucedeu.
C´as as força da humildade
Já me sinto mais mió
Me desejo um ânus novo
Cheio de velso e forró
Pros cumpade com franqueza
Desejo grande riqueza:
Saúde no Fiofó.
Posta por Fernando Caldas
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
"UM LIVRO INESQUECÍVEL"
É a saudade vencendo o tempo. Essa menina de Minas Gerais. Maria Eugênia Maceira, hoje senhora Nelson Borges Montenegro, reconstrói a meninice feliz e despreocupada, na movimentação incessante e normal do cenário de Lavras, Sant'Ana de Lavras do Funil, Princesa do Sul, Atenas Mineira.
O pai é português, emigrado do norte de Portugal, engenheiro, agrimensor, desenhista, fotógrafo, hortelão, jardineiro, matemático, trabalhando na estrada de ferro e nas rodovias, doutor formado na Universidae da Vida, com intuições geniais de adaptação técnica. A mãe, brasileira, com sete filhos, educa, vitaliza e enriquece o espírito de sua floração inquieta, sadia, natural.
Maria Eugênia Maceira Montenegro reconduz os passos para a rua d. Inácia, com sua noite colonial de escuro, estrelas no céu e sacis-pererês cabriolando nos caminhos silenciosos. Uma a uma as figuras reaparecem, completas, íntegras e vivas, recomeçando o romance da cotidiana missão de esforço e de esperança. A moldura de lavras volta a uma presença legítima sob as luzes sentimentais das lembrança, serras, águas, flores, pássaros.
A vida para a menina é sua família, pais, irmãos, primos e tias, um pequenino universo com seus ciclos gravitacionais e luminosos de episódios íntimos, passeios, brigas, desejos, viagens curtas e sonhos longos, todos os elementos que compôem a ecologia imultável das recordações.
Mas essas memórias de uma menina feia vividas entre fúcsias e jasmim, revendo o baúzinho verde onde o passado esconde as riquesas da memória fiel, olhando colibrís, borboletas e marimbondos, casas, fisionmias queridas, é também um documento precioso pela sua veracidade, no plano testemunhal, de uma família modesta e pobre, mantida pela obstinação de todas as horas, com a mão tradicional, inesgotável de força criadora, impressionante na grandeza comunicativa de energia. Depoimento da normalidade familiar brasileira em Minas Gerais, reserva de perenidade moral na resistência coletiva.
Vereis como essas crianças foram educadas, alimentadas, postas no ritmo inflexível do trabalho, da colaboração pessoal, numa ante-preparação ao solidarismo social. Naquela casinha da rua d. Inácia, não há seres inúteis, preguiçosos, indolentes e fixados ao marginalismo aproveitador da produção alheia. Até Maisé trabalha no mundo povoado de bonecas sublimadoras da frustração maternal.
Compreende-se por esse Saudade, teu nome é menina como a família a perpetuidade do grupo nacional, não porque as crianças nascem, mas, porque as mães anônimas sabem transformá-las em homens dignos e em mulheres admiráveis. Vai d. Gena contando sua história nas estórias de sua meninice. Ecerra o velário quando ama, noiva, casa, com um nordestino estudante em Lavras, acompanhando o marido para paisagens distantes, estranha e diversa das verdes matas, águas catadupejantes, frios de inverno, da mesma alimentação que a terra justifica em sua generosa multiplicação, frutos, verduras, hortaliças. Nas várzeas do Assu, riscadas pelo rio que ressuscita quando chove, olhando carnaubais, a mineirinha da casinha de madeira do jardim, do pomar da rua d. Inácia, laboratório de exemplos tranquilos de confiança e de fé e transmite ao filho, o mais fidalgo dos quatro mosqueteiros, a reminescência de como sua vida começara, limpa e nobre, ensopada no leite mais puro da ternura humana. Um dos encantos deste livro é a sua comunicabilidade. Vivemos também no seu tempo, morando na mesma casa, recebendo as bençãos ds mesmas tias, os presentes quando papai voltava, comendo doces inesquecíveis e dos pratos telúricos da cozinha mineira. Tantos fios emocionais nos prendem na indêntica insistência da mesma teia eterna e permanente dos lares onde o sono infantil é guardado pela asa do anjo da guarda maternal, A autora, sem pensar e talvez sem querem, conseguiu esse milagre de afetuoso contágio. Todos os seus leitores participam dos encantos sem pecados e na convivência sem vícios dessas roseiras mineiras, cujas flores se trasplantam para o nordeste, recriando e mantendo a beleza cristã dos lares felizes."
Luis Da Câmara Cascudo
(Do livro estréia intitulado "Saudade, Teu Nome é Menina", da escritora assuense de Lavras, Maria Eugênia)
domingo, 3 de fevereiro de 2008
UM POUCO DE MOYSÉS SESYOM
Certa dia, bebendo num certo botequim da cidade de Assu alguém lhe dera o seguinte mote: "Bebo, fumo, jogo e danço / Sou perdido por mulher". Aquele bardo boêmio de vida atribulada, escreveu na hora a seguinte décima que se tornou célebre:
Vida longa não alcanço
Na orgia ou no prazer,
Mas, enquanto eu não morrer
- Bebo, fumo, jogo e danço!
Brinco, farreio, não canso,
Me censure quem quiser...
Enquanto eu vida tiver
Cumprindo essa sina venho,
Além dos vícios que tenho,
Sou perdido por mulher!...
A glosa seguinte é uma das mais notórias que Sesyom produziu. Vamos conferir:
Isto ontem aconteceu
Debaixo da gameleira.
Foi um tiro de ronqueira,
O peido que a doida deu.
A terra toda tremeu,
Abalou todo o Assu,
Ela mexendo o angu,
Puxou a perna de lado.
Deu um peido tão danado
Quase não cabe no cu.
Francisco Amorim depõe em Eu Conheci Sesyom, 1. Edição, que o mote "Sua mãe foi fêmea minha" foi dado a Sesyom por um amigo que se encontrava bebendo com ele no Hotel Pátria, da cidade de Assu, que ali mesmo Sesyom glosou:
A sua raça é safada
Desde a quinta geração
Seu avô foi um cabrão
Sua avó, puta de estrada
Sua filha, amasiada
Prostituta uma netinha
Uma irmã que você tinha
Esta pariu de um criado
Seu pai foi corno chapado
Sua mãe foi fêmea minha.
Sesyom numa feliz inspiração, com amor a sua terra natal, escreveu o soneto publicado no jornal "A Cidade", de Assu, edição de 13 de março de 1927, intitulado "Soneto", que diz assim:
Caicó, berço de luz. Terra adorada.
De belas tradições. Bem conhecida.
Onde, em tempo, passei vida folgada,
Terra que nunca esquecerei na vida.
Caicó, ninho querido. Idolatrada,
Terra sem outra igual, calma, florida,
Onde meus pais nasceram, abençoada,
Onde reside minha mãe querida.
Vivem ali na formosa paz da serra,
Meus irmãos de quem vivo separado,
Filhos que também são daquela terra.
Terra de Senador e Deputado,
Onde nasceu o Padre Brito Guerra
E o nobre Presidente do Estado.
Sesyom é Moiysés ao contrário. Morreu no dia 9 de março de 1932 e está enterrado na Cemitério São João Batista, da cidade de Assu/RN.
Fernando Caldas
sábado, 2 de fevereiro de 2008
UM POETA MATUTO
O professor e historiador Edson Aquino Cavalcante escreveu sobre Paulo dizendo que ele "tinha jeito para o desenho artístico, mais tarde resulta neste mestre que deixa todos boquiabertos com a sua capacidade de criação. Sendo hoje um contador de causo de primeira linha."
A propósito da sua entrevista no Programa do Jô, apresentado no dia 2 de fevereiro e reapresentado no dia 21 de março de 2005, o jornal "O Mossoroense", publicou a seguinte nota: "A madrugada do último sábado foi marcada pela presença do poeta popular assuense Paulo Varela no Programa do Jô. O homem deu um verdadeiro show mostrando que a cultura popular é rica (...).
Vamos conferir a sua verve, a sua criatividade poética que agrada a leigos e letrados:
Pro mode dessas doidice
Que temo que escutar
Tanta coisa ripitida
Desses tanto bla-blá-blá
Por isso qui tenho dito
Os versos são mais bunito
Do que esses pocotó
Gente sen arte tá rico
E ouvido não é pinico
E nem também urinó
Faço coisa diferente
Dessas raízes da gente
Pois eu acho mais mió
Falo de nossas sabenças
Das nossas maledecências
Das coisas do mei rurá
Eu falo do sofrimento
Do chicotar do jumento
Do vôo do carcará
Falo do gado magrenho
Da cachaça, do engenho
Do nordestino sofrido
Desse mato ressequido
Do espinho unha-de-gato
Tocaia no mei do mato
Das poça, do lamaçá
Da mãe que dá de mamar
Do aboiar do vaqueiro
Do repicar do ferreiro
Das prece, dos retirante
Dos bando de avuante
Do sol amarelo e quente
Da fome de nossa gente
Cangaia, borná, chucaio
Tropeiro no seu trabaio
Bisaca, xote, capim
Das negas, dos cabra ruim
Viola, moitão, furquia
Do calor do meio-dia
Casa de taipa, forró
Cachorro, gato, socó
Dos cabôco bom de briga
Das gostosas rapariga
Trinchete, alguidá, panela
Do pilão, cabaço e vela
Do luar, da lamparina
Dos perfume das menina
Quengo, feira e caçote
Biqueira, coice, magote
Farinha, feijão, arroz
Do nosso baião-de-dois
Cangapé, foice, matuto
Nossa fé, do nosso luto
Dos andar das romaria
Do repente, cantoria
Das beatas rezadeira
Dos tiros de baladeira
Dos bolão de vaquejada
Dos coriscos, trovoada
Enxada, perneira e pá
Brida, roçado, vasante
Mas vamos mais adiante
Que não parei de falá.
No folder da festa de São João Batista (Padroeiro do Assu) de 2004, está transcrito um poema convite de sua autoria, dizendo assim:
Pros cabôcos que é de fora
Nóis queremo convidá,
Pra beber de nossa água,
Pro móde nóis forrozá.
Ver quadria e buscapé,
Quem sabe arranjá muié,
Cum as cabôcas se insfergá.
Quem sabe arranjá cabôco
Pra sair do caritó,
Pra resolvê seu sufôco.
In nossa festa arretada,
Só vai tê gente educada,
I vai ser coisa de lôco.
Tem mio, canjica e baião,
Pamonha, alfinim, bandeira,
Xote, buchada e fugueira.
Vai tê balão em fileira,
E a novena é de primêra.
Tem corrida de jumento,
Umas bandas de talento,
E um show de alegria.
Eu lhe convido de novo,
Pra tú cunhecê o povo
Da terra da poesia.
Fica registrado um pouco da poesia matuta deste bardo assuense chamado Paulo Varela.
(Fernando Caldas)
"VARZEA DO ASSU"
É de notar a ausência das tarefas de carnaúba, corte de folhas, batida, fazimento de cera, seus processos. E quem nos diz que essa omissão não seria intencional? Que haja o autor reservado essa parte para o outro ensaio, em que estude a organização tradicional do trabalho na população do Assu? Quantas curiosidades foram relevadas... E o vocabulário capitoso, entubibaram, fiota, pé de castelo, mulada, rupe, feder a fogo, marombos, trambecar, rebolada, de macambira vasqueira, dando para casa, deu de marcha, o cavalo acendeu as orelhas, desadorador, taipero de pilão, tenha tramém, que ouvimos, empregamos mas não escrevemos, assombrados com a fauna extinta dos gliptodontes gramaticais? E o verbo espírita, obsoleto e desusado em portugal, comum aos clássicos, citado em Ferreira (Comédia de Bristo, c. v. do voato) com a contratação ora em Deus em ti, e, na várzea do Assu, o bicho? É com parcimônia que cito.
Não é menor a divulgação de hábitos que se tornaram como cerimônias, espécie litúrgica de gestos, indispensáveis a esse ou aquele ato. Nos bailes dos Mucaias há o cerimonial popular de oferecer bebida em que o pagador deverá liberar primeiramente. Tome! Não, dizia o companheoro, venha de lá. Não, pode tomá. Só entã o parceiro bebe. Todos nós sabemos desse detalhe. Mas ninguém o escrevera ainda. E como esse, inúmeros. Pertencem, essas informações, ao domínio etnográfico, indispensável para o estudo da psicologia coletiva.
A retirada do gado, a derrubada do barbatão pelo vaqueiro Preto Ruivo, da azenda Alemão, está como um retrato ao vivo: - Ao sair numa capoeira pequena e estreita, Preto Ruivo enrolou novamente. Enrolou e segurou. Abrindo o cavalo para fora num ímpeto de raiva, sentão a mão na saia do barbatão, pegou o cavalo nas esporas e gritou ao bicho, jogando-o por cima de uns troncos de catingueira. É rápido, preciso, numa linguagem que será desconhecida aos que se iniciaram nas lides do sertão pastoril. Sentar, abrindo o cavalo, pegou nas esporas, saia do barbatão, gritou ao bicho, são mistérios para um praiano mas lembranças vivíssimas para quem residiu e ama a terra bravia do sertão de pedra.
É esse Várzea do Assu o primeiro livro do autor. Vale por um balanço de capacidade. Raros começaram por essa forma, amando a vida e narrando-a sem disfarces e mentiras de estilo bolo-de-noiva ou pornografias convencionais de realismo.
M. Rodrigues de Melo não andou escrevendo a várzea do Assu. Andou filmando. E com a mais sensível, delicada e fiel das máquinas: - o coração..."
Luis da Câmara Cascudo
(In O livro das Velhas Figuras)
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Um dos princípios que orientam as decisões que tratam de direito do consumidor é a força obrigatória dos contratos (derivada do conceito de ...