On March - 9 - 2011
Jeff Thomas, colunista social, potiguar de nascimento “mas também cidadão do Reino Unido”, amigo pessoal do Príncipe Charles, fundador do PT e seu primeiro candidato ao senado no Rio Grande do Norte, já se candidatou várias vezes à Academia Brasileira de Letras. Autor de quase duas dezenas de livros, fala com exclusividade ao Seja Dita Verdade sobre sua decisão de enfrentar o jornalista Merval Pereira, das Organizações Globo, na disputa por mais uma vaga na casa de Machado de Assis.O que motiva sua candidatura à Academia contra o poderoso colunista de O Globo e da Globo News?
Jeff Thomas – Em primeiro lugar o sagrado sentimento de indignação. Desgraçado daquele que perde a capacidade de se indignar diante da infâmia e da canalhice. Em segundo lugar, minha biografia. Jamais rastejei para os poderosos, jamais coloquei a mão em um centavo do dinheiro público, jamais prestei vassalagem aos Marinho, jamais compactuei com a ditadura militar que infelicitou esse país depois do golpe de 64. Fui amigo pessoal do grande presidente Jango que me nomeou para o Itamaraty, para servir em importante legação diplomática, em Hong Kong, justamente na área econômica, de atração de investimentos para o Brasil. Foi desalojado de meu posto pelos milicos gorilas em 64. Eu, sim, sou jornalista! Eu, sim, tenho muitos livros publicados! Eu, sim, vendi milhares de exemplares nas livrarias desse país sem o apoio da máquina da Globo!
Sua candidatura, portanto, é uma candidatura de protesto?
- Minha candidatura é a candidatura de um profissional das letras, de um escritor, de um verdadeiro jornalista, de um cultor de dois idiomas, o de Machado e o de Shakespeare, os dois maiores escritores de todos os tempos. A candidatura do senhor Merval Pereira é a candidatura de um empregado da família Marinho no que de pior isso possa representar. Que títulos têm? Que qualidades nos apresenta? Sua obsessão em caluniar um presidente que tirou 30 milhões de brasileiros da miséria e os levou para a classe média de consumo? Escreveu um livro mais grosso que a Biblía e o Alcorão juntos para esculhambar o Lula e agradar os três meninos Marinho e acha que isso é passaporte para vestir o fardão! Coitadinho!
Não acredita ser legítima ou válida a candidatura de Merval Pereira à Academia Brasileira de Letras apenas por ser de O Globo e por ser de oposição a Lula e ao PT?
Jeff Thomas – Meu querido, não é isso, não! Ele tem o direito de ser candidato até a síndico do prédio dele lá no Méier. Eu já fui candidato várias vezes concorrendo com laureados escritores por vagas na Academia. Sabe quem me incentivava? Meu saudosíssimo e querido amigo Austregésilo de Athayde, que inclusive me deu a honra de prefaciar vários de meus livros, assim como o inesquecível Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, outro amigo a quem recordo com muitas saudades. Quem são os amigos do Merval? De quem ele sente saudades? Do general Garrastazu Médici, do Armando Falcão, aquele pulha, do Alfredo Buzaid, do general Aurélio de Lyra Tavares, um analfabeto e troglodita que entrou para a academia com uns versinhos infantis assinados como “Adelita”, que eram as iniciais dele!
Então, Merval na Academia, de jeito nenhum?!
Jeff Thomas – Of course, meu caro! Nem que o Doutor Roberto Marinho se levante do jazigo pérpetuo da Academia no cemitério de São João Batista, desnude seu esqueleto milionário, empreste o fardão com cheiro de naftalina para o seu empregado e mande que todos votem nele, ainda assim, a entrada de Merval Pereira naquele sodalício seria um estupro intelectual. Não tenho nenhum veto moral a esse cidadão, não conheço nada que o desabone no plano pessoal e ético. Meu veto é só político e intelectual. Político por ser um reacionário que representa o que há de pior, de mais atrasado, de mais negativo, de mais antipopular, de mais amofinado em nosso país. Intelectual por não enxergar nesse pobre coitado as condições indispensáveis de dialético, sinapse, formulação intelectual, redação minimamente aceitável e domínio da língua pátria. E aproveito a oportunidade para lançar a candidatura de Merval para a Academia Nacional de Medicina, na primeira vaga de houver, do mais importante cientista que partir desta para melhor, do médico mais renomado que abotoar o paletó, do pesquisador mais respeitado que bater as botas. Lá é o lugar do Merval: suas colunas são uma revolução científica, pois acabaram com a insônia de milhares de pessoas que ao lê-las desabam no sono em pouquíssimos segundos! Será o acadêmico Morfeu Pereira!
Tem feito contatos e recebidos incentivos de outros imortais? Já tem votos garantidos?
Jeff Thomas – Há muita falsidade, muitos pusilânimes. Mas, em relação ao Merval, não a mim. Tenho sido muito bem recebido e muito incentivado. Recebo telefonemas, alguns tarde da noite, em plena madrugada. Vou toda semana lá na sede da Academia tomar o meu chá. Sempre me tratam como se fora um imortal sem fardão. Falam no meu ouvido: “Vai Jeff, enfrenta esse cara, ele é um chato! Deus nos livre dele aqui!”. Ninguém quer brigar com um bedel dos Marinho, com um xeleléu de O Globo. Mas, pelas costas, como na cena imortalizada por Shakespeare em sua obra sensacional, o apunhalam e me prometem votos, pois “Merval é um jornalista honrado”… Sei que conto com a torcida secreta do poderoso jornalista Ali Kamel, que é quem manda lá na Globo e detesta o Merval. O Merval quer ser da Academia para não ser demitido pelo Ali Kamel, mais dia menos dia, que é o que vai acontecer. Nesse caso, o fardão seria uma espécie de “blindagem”, quáquáquá!!!
Você continua petista?
Jeff Thomas – Não. Fundei o PT. Fui ao ABC e levei meu amigo Lula ao Gallery para tomar champanhe. A primeira vez que o Lula tomou champanhe, que entrou num restaurante fino, que conheceu a burguesia, que foi recebido pela classe dirigente, foi pelas minhas mãos. Quem pagou a conta foi o inesquecível Adolfo Bloch, da Manchete, onde eu trabalhava na época. Lula se comportou com muita educação e personalidade, defendeu seus pontos de vista e respeitou as pessoas da burguesia presentes naquele templo da elegância no fim dos anos 70. Depois pediu que eu fosse ao Rio Grande do Norte e fundasse o PT, que na verdade já existia por aquelas bandas, e fizesse o supremo sacrifício de ser candidato ao senado em 1982, enfrentando as oligarquias de Agripino Maia e de Aluisio Alves. Minha plataforma era objetiva: ensino do inglês nas escolas públicas, adoção daquele idioma como segunda língua em todo o Brasil, adesão de nosso país ao Commonwealth, a comunidade dos países do Reino Unido. O Lula, surpreendentemente, me disse: “Olha, companheiro, não perdendo a soberania, acho tudo isso ótimo. Toca adiante!” Desembarquei em Natal e senti a ausência do fog londrino, achei o calor horrível, não consegui entender o sotaque das pessoas, elas olhavam o meu terno risca-de-giz com o indefectível cravo vermelho na lapela, os meus chapéus Gelot ou Panamá e o meu guarda-chuva com cabo de castão de prata que Lord Montbatten me presenteou na velha Albion em 1967, e arregalavam os olhos como se estivessem diante de um ET. Desembarcava no teco-teco nas pistas de pouso empoeiradas do interior miserável e multidões me esperavam. Mas eu não sou bobo como o Merval: não estavam ali para votar em mim, estavam lá por terem ouvido que havia chegado de Londres um amigo da rainha com a mala cheia de libras para comprar votos. O que, é claro, era uma mentira terrível. Deixei aquela terra calcinada e aquele povo sofrido (...) e fui tomar meu gin tônica no Annabel’s em Londres, que é o meu lugar.
Sua expectativa é de vitória na disputa contra Merval Pereira?
Jeff Thomas – Tenho a mesma expectativa de Miss Thatcher ao ordenar que o almirantado recolhesse as âncoras e rumasse ao sul, direto para as Falklands, para acabar com a festança do cachaceiro Galtieri e dos arrogantes argentinos em 82. Sinto um peso enorme em enfrentar o Merval. Não é medo, mas uma certa humilhação: quem conviveu e privou com Di Cavalcanti, Assis Chateaubriand, Lord Montbatten, Madame Coco Chanel, Walther Moreira Salles, ter que perder tempo com esse sujeito, é quase uma degradação espiritual! A Academia é coisa séria! Ser empregado da Globo não dá direito de se sentar onde se sentaram Machado e Jorge Amado, Guimarães Rosa e Abgar Renault, Antônio Callado e Coelho Neto, José do Patrocínio e Joaquim Nabuco, só para ficar em alguns. Já chegam alguns que não enobrecem a ABL e não vou citar seus nomes e o Merval ainda que sujar ainda mais o galinheiro? Nãozinho para ele! Bye Bye, Merval Morfeu!
(Matéria enviada por Paulo Sérgio)
Nota do blog: Jeff Thomas é um afamado jornalista social (colunista social). Ele é natural de Paraú-RN, filho do Coronel Silvestre Veras, abastardo fazendeiro naquele sertão parauense, falecido na década de setenta. Conheci Jeff Thomas uma vez no Açu quando candidato ao senado da república pelo Rio Grande do Norte, foi também candidato a deputado federal, se não me falha a memória, no início da década de sessenta, também pela terra potiguar.
Fernando Caldas