quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"POUCAS E BOAS", DE VALÉRIO MESQUITA

Ocorreu ontem, 26 de novembro, o lançamento do livro sob o título "Poucas e Boas", 2008, em segunda edição, do escritor potiguar de Macaíba, Valério Mesquita. Compareceram centenas de pessoas de vários segmentos da sociedade´potiguar, para prestigiar aquele escritor imortal. Naquele volume, Valério transcreve várias estórias narradas por minha pessoa (Fernando Caldas), bem como várias outras estórias relacionadas a pessoas folclóricas e espirituosas do Assu, que transcrevo adiante para o nosso bem estar:
1 - Fernando Caldas, assuense de ótima qualidade, poeta e pesquisador, enviou-me alguns "causos" folclóricos de sua região. Agradecendo a remessa, vamos juntos nos deliciar com as suas histórias. Chico Dias trabalhoui para o deputado Arnóbio Abreu, nas eleições de 1998. Logo após o pleito, foi à casa de Zeca Abreu, irmão de Arnóbio, para um entendimento político. Ao chegar, foi atendido pelo motorista de Zeca que lhe respondeu ao ser indagado pelo paradeiro de seu patrão. "Chico, Zeca encontra-se no banheiro com uma forte dor de barriga". Chico mandou chumbo grosso: "Meu amigo, eu não vim aqui comer o cedenho dele, não!!"
2 -Fernando Caldas contou que Bonzinho, lá do Açu, estava bebendo em um bar da cidade quando foi surpreendido por Joca Marreiro, seu pai, que lhe convidou a ir para casa pois já era noite alta. Aceitou o convite paterno, mas foi taxativo e solene: "Papai, vá na frente que o mundo tá cheio de gente ruim".

3 - Comício de Ronaldo Soares em Açu. O povo doidão na praça. O locutor vibranrte anuncia a palavra de Chico Galêgo, candidato a vereador, líder da Lagoa do Piató. Ao receber o microfone sem fio, assustou-se com o equipamento e tratou de reclamar: "Cadê a correia dele Lourinaldo, cadê a correia, esse bicho não vai falar de jeito nenhum!!!. Aí a galera vibrou.

4 - Açu é um filão de estórias que não tem fim. Ronaldo Soares, captador permanente dessa atmosfera densa e intensa, passou-me mais uma. Seu conterrâneo Zé Gago andava ás turras com a esposa Isabel. Em suma havia arranjado uma rival. Revoltada, a família se reuniu para lavrar aquele protesto e chamar o esposo e pai à responsabilidade. Em sua defesa, Zé Gago veio com um argumento genial: "Meus filhos, arranjei uma mulher, é verdade, mas foi pra poupar sua mãe". Inconformada, dona Isabel saiu do seu silêncio: "Se foi por esse motivo, pode me rasgar toda!!.
5 - Tico, motorista do ex-deputado Arnóbio Abreu, não foge à regra de muitos profissionais bons, mas broncos e teimosos demais. Certa noite, num comício em Açu apareceu por lá o servidor da secretaria de Saúde Alan Rio. Ao vê-lo, Tico comentou que já vira antes esse rapaz. Um interlocutor presente o ajuda afirmando que o nome dele é Alan. Tico repreende: "Não, Alan é apelido!!. Chamando a intervir, Arnóbio confirmou que o nome do visitante é Alan. Tico, na sua teimosia homérica, retruca: "Não, doutor Arnóbio, Alan é de ovelha por isso, é apelido mesmo"!!.
6 - Jobeni Machado, fazendeiro do Açu, lá pelos anos setenta não teve dificuldades para aprender, ao pé da letra, as lições dos filósofos da economia da época. Endividadíssimo e instado a pagar pelos bancos oficiais os seus empréstimos agrícolas vencidos e esquecidos, Jobeni utilizou a máxima do faraó Delfim Neto, ministro da fazenda: "Dívida pública não se paga, se rola". Não foi à toa que o governador de Minas Itamar Franco se inspirou no exemplo. No caso de Açu, até hoje tá rolando.
7 - Fernando Caldas manda-me algumas poucas e boas da rica safra açuense. Manoel Montenegro Neto (manuca), disputou sem sucesso a prefeitura de Açu, em 1976, contra Sebasrião Alves. Manuca foi deputado estadual por duas legislaturas e deputado federal durante alguns meses. Pertencendo ao então MDB, fazia discursos inflamados cumprindo o seu papel de oposição, combatendo a inflação e outros bichos. "Meus amigos, senhores deputados, quem é que pode comer uma galinha por tês cruzeiros?" (moeda da época), indaga Manuca pateticamente da tribuna da assembléia.. Um correligionário que ouvia atentamente o seu pronunciamento respondeu da galeria: "O galo, Manuca!".
8 - Junot Araújo dos Santos foi vice-prefeito na chapa de Lourinaldo Soares nas eleições municpais de 1992 em Açu. Junot prometeu na campanha a uma senhora, uma cirurgia de períneo. A operação seria feita pelo seu pai dr. Nelson, logo após as eleições. Certo dia a eleitora procurou o vice-prefeito com outra conversa: "Junot, no lugar da cirurgia me arrange cinco sacos de cimento". Fátima, sua mulher, escutando a exploração daquela eleitora, saiu-se com essa: "Essa égua quer agora tapar o buraco com cimento!"
9 - O saudoso Ronaldo Ferreira Dias era importante funcionário do Senado da República. Norte-riograndense de Lages e com muita ligação no Açu. Nas eleições de 1982, concorreu a deputado federal mesmo sem ter vivência política no Estado do Rio Grande do Norte. Ronaldo seria o segundo suplente com qualquer votação. Foi a Açu e procurou seu primo Chico Dias que era candidato a vereador para fazer a sua campanha no município assuense. Certo dia,telefonou de Brasília para o primo: "Chico, como vai a aceitação do meu nome por aí?" Chico respondeu pausadamente: "Ronaldo, saí de casa com mil fotografias (santnhos) suas e voltei com duas mil".

terça-feira, 25 de novembro de 2008

ASSU DE ANTIGAMENTE

Praça do Rosário (antes era uma igrejinha chamada Igreja do Rosário). Deu lugar a partir de 29 de junho de 1949, a já citada Praça do Rosário. A sua construção se deu com recursos da prefeitura do Assu e em cooperação com o povo daquele município (os comerciantes locais), como Solon e Afonso Wanderley que eram proprietários da famosa Padaria Santa Cruz, Fernando Tavares Filho, Minervino Wanderley , entre outros. Cada banco daquela praça estampava em letras vivas os nomes de cada um dos seus colaboradores. A imagem de Nossa Senhora do Rosário, foi doação do casal Betariz Amorim e Pedro Amorim (que foi médico, intendente, prefeito do Assu, deputado estadual e presidente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte). aquela praça teve a primeira reforma (totalmente modificada) na administração do prefeito Ronaldo Soares. A sua reforma foi inaugurada no dia 16 de outubro de 1994, dia do aniversário de emancipação daquele municipio. Aos fundos a esquerda, vejamos o Institututo Padre Ibiapina, e a direita o casarão que pertencia ao senhor Manuel Soares, onde hoje está assentado a casa bancária Banco do Brasil.
Fonte: blogdofernandocaldas.blogspot.com

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

ASSU DE ANTIGAMENTE

O prédio a sua esquerda (lindo sobrado), era onde funcionava a Cadeia Pública. Foi demolido para ser construído um novo prédio para assentar a sede da prefeitura Municipal do Assu, na administração do prefeito Edgard Borges Montenegro. Deu-se início a sua construção no dia 10 de setembro de 1949 e concluido em 1956, pelo prefeito Francisco Augusto Caldas de Amorim (Chuisquiro). Hoje ele, Amorim, espresta o seu nome a sede dauqela prefeitura. O outro sobrado, a direita da referenciada edificação, atualmente está assentado o prédio pertencente a família de Zé da Bodega que foi proprietário de um super mercado naquele local, hoje pertencente aos seus familiares.
Fonte: blogdofernandocaldas.blogspot.com

sábado, 22 de novembro de 2008

POESIAS DE MARIA EUGÊNIA


AS ASAS DAS HORAS

São asas que marcam as horas
ou as flores nas sementes.
ou as crianças crescidas nos
cabelos brancos?
Quem marca caindo no canteiro?
Os ponteiros do relógio?
A lua que anda o tempo inteiro
ou a velhinha que cansou de andar e jaz sob o mármore
branco?
Quem marca as asas
horas?

INSÔNIA

O meu lençol está gelado.
Não tenho pouso para o meu corpo cansado.
Quem triuxe o gelo
para o meu quarto?
.
FANTASMA

Deito-me nas quatro paredes.
Meu corpo quadrado de
branco,
rola na varanda das redes.
Fantasmas brincam com o cal,
segredam-me rudes segredos.
De seus mundos arrenegados.
Sorriem do be, e do mal.

MINHAS MÂOS

Minhas mãos são
asas,
traças
preces:
Quando tenho sede de amor,
quando minha alma se transforma em dor.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

HOMENAGEM AO POETA CALDAS


Em 1958, ocorreu um fato literário importante. O poeta João Lins Caldas ao se encontrar naquele ano, na cidade de Natal, foi homenageado por intelectuais e pelo prefeito Djalma Maranhão, como podemos conferir na fotografia acima, o poeta entre as figuras de (da esquerda para direita) Veríssimo de Melo (escritor), Rômulo Wanderley (antologista) Esmeraldo Siqueira (poeta) amigo íntimo do homenageado, o poeta Caldas, Djalma Maranhão (prefeito de Natal) e Manoel Rodrigues de Melo (escritor). Aquela homenagem (um coquetel oferecido por aquele prefeito) ao poeta assuense, foi realizada nos jardins do Teatro Alberto Maranhão.

ASSU DE ANTIGAMENTE

7 de setembro de 1845. A praça já denominava-se de praça da proclamação, denominada por Ezequiel Fonseca quando intendente do Assu. Ao fundo vejamos o Mercado Público, já reformado em 19 de maio de 1943 pelo prefeito Manuel Pessoa Montenegro.
Comemoração do Centenário do Assu. Na prça então denominada de praça do Centenário. Vejamos ao fundo, o antigo Mercado Público, construido em 1876.

CRÔNICA


NOITES DE NATAL
(Por Bosco Lopes)
As muitas cidades que me perdoem, mas Natal é fundamental. Não fosse pelo seu pôr do sol do Potengi, seria pelas pessoas que o contemplam, embriagadas de poesia e que passeiam a beleza pelas suas ruas seculares.
Nascestes Natal, entre o rio e o mar, com os teus alicerces ancorados nos arrecifes da Praia do Forte, estrela maior que guia a nau catarineta tripulada de poetas, que saem por tuas noites em busca de bares nunca antes navegados. Caminhas ecologicamente banhada pelo rio e protegida pelas dunas. Fostes a bem-amada dos aventureiros gauleses, holandeses e lusitanos, para tempos d´pois servires de pilar de uma ponte de guerra que ia desta parte ao outro mundo.
Natal, admiro a ternura fotográfica dos seus becos que não cantei num dístico. Mas que canto cotidianamente com a minha presença, pois num deles aconteceu, num acaso feliz, meu batismo de cachaça e poesia, apadrinhado por Berilo Wanderley e Celso da Silveira. Para citar apenas um, fico com o Bar do beco de Nazi, que com suas alquimias prepara a melhor "meladinha" deste mundo.
Nas tuas noites, vejo teu nome inscrito em gás neon: Maria Boa, educadora de várias gerações. Noites que verei violentando teu silêncio com violões, modinhas, amigos e tragos de aguardente. Noites inolvidáveis do Brizza de Mare, do Cisne, do Granada Bar, do Acácia, tão distantes das tardes de minha infância, onde no patamar da Igreja do Galo meu velocípede azul pedalava esperanças. Mas é nas tuas manhãs ensolaradas que vejo tuas mulheres bonitas na passarela pública das praças, parques, praias a se perderem de vista.
Mas se é inverno, evito tuas praias e me agasalho no abrigo dos copos dos teus bares e no calor dos corpos de tuas mulheres. Tenho tudo para ate agradecer. Natal, pois tudo me deste: poetas como Itajubá, Jorge Fernandes e Jaime Wanderley, cujos versos guardo de memória. Eu, também etilírico poeta, de pé no chão aprendi o ofício da poesia para te dizer: muito obrigado, Natal, pelas dádivas que de ti recebo há 33 anos.
(Texto publicado na imprensa de Natal, em 1984).

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

"POUCAS E BOAS"

Recebi com muita honra o convite de lançamento do livro intitulado "Poucas e Boas", do escritor imortal da Academia Potiguar de Letras, Valério Mesquita. Será no dia 26 de novembro, uma quarta feira, às 18h, na Livraria Siciliano do Shoping Midway. Farei presença com muito prazer, para prestigiar aquele escritor que engrandece as letras do Rio Grande do Norte. Valério foi prefeito de Macaíba, deputado estadual por várias legislaturas, presidente da Fundação José Augusto, membro do Conselho Estadual de Cultura e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grannde do Norte, além de membro efetivo da União Brasileira de Escritores. Atualmente é Conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Grande do Norte. Permita-me o escritor Valério, para transcrever alguns causos que ele conta na primeira edição de "Poucas e Boas", relacionados a alguns políticos norte-riograndenses, que dizem assim:

1) No Palácio Potengi dos anos cinquenta, cinquenta e sete, cinquenta e oito, pontificava a figura de Antônio Soares Filho, Chefe do Gabinete Civil. Bom papo, o saudoso Toinho, mandou mobiliar uma sala que estava vazia, só para os papos de fim de expediente com as grandes figuras da paróquia, onde rolavam as novidades políticas. Até Dinarte quando encerrava os despachos, aparecia por lá. Numa das vezes, o Governador recomendou a Antônio Soares para encaminhar um rapaz ao Dr. José Nilson de Sá, Diretor do DER, recomendando-o para o emprego de desenhista. No DER, quando soube da chegada do rapaz, Zé Nilson, já desconfiado, resmungava: "Eu não sei porque Dinarte botou na cabeça sempre a vaga de desenhista! Olha, manda esse rapaz desenhar uma boeira, uma ponte, um tubulão". Após alguns instantes, a secretária retornou com o diagnóstico: "Dr. Zé Nilson o rapaz não desenha coisa nenhuma!". "Suspenda, que eu vou falar com o Governador", respondeu o Diretor. À noite, na casa de Aldo Medeiros, nem precisou Zé Nilson provocar o assunto, pois Dinarte foi logo indagando: "Zé Nilson, você recebeu hoje um rapaz, filho de um compadre meu?". "Recebi, governador. Mas o rapaz não sabe desenhar absolutamente nada?" . "Ô Zé Nilson, ensina; ensina que ele aprende!!"

2) O mestre Odilon Ribeiro Coutinho, usineiro, intelectual, homem de finessse, acabara de se eleger deputado federal em 1963, pelo RGN. Estava no Rio, hospedado no Copacabana Pálace. Lá fora fluía naturalmente uma linda manhã carioca. No hotel, mulheres exuberantes pintavam em cada metro quadrado. O nosso Odilon tal um finíssimo lorde inglês era atendido no saguão por uma bonita pedicure. Em meio àquele torvelinho de bom gosto e elegância, o deputado sorvia os primeiros goles matinais de Whisky on the rocks, balançando o copo "softamente". De chofre, é reconhecido por um potiguar, empregado do hotel: "Deputado o senhor por aqui? Eu sou do RGN e votei no senhor! Como vai o senhor?" Odilon, sem perder a postura nobre, mexendo suavemente o copo, após outro gole: "É luta, meu filho! A luta é grande!".

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

ESTÓRIAS DE POETAS

Desta plaquete (capa acima) extraio algumas estórias engraçadas contadas em versos por dois poetas consagrados chamados Moisés Sesión e Chico Traira, que veremos para o nosso deleite adiante:

Moisés Lopes Sesión, poeta dos versos jocosos e fesceninos, conhecido como "O Bocage do Rio Grande do Norte", era um boêmio autêntico. Certo dia, encontrando-se embriagado pelas ruas da cidade, foi convidado por um certo cabo de polícia para dormir na cadeia. Naquela hora vinha chegando o delegado que era seu amigo e, por se tratar de um homem de bem, popular e muito bem relacionado na cidade, deu ordem ao policial para relaxar a prisão. Foi o bastante para Sesión produzir os seguintes versos:

Sargento as suas divisas
Deus terá de protegê-las.
Dos braços irão para os ombros
E aí serão estrelas.
E Deus há de me dar vida
para que eu possa vê-las.
O cabo que aí está
Nunca será um tenente.
O galão que ele terá
É um galão diferente:
É um pau com duas latas,
- Uma atrás, outra na frente.


Chico Traíra era poeta cordelista, cantador de viola dos melhores do Nordeste. Era tido como assuense, mas era natural de Ipanguaçu, nascido no Sítio Pau de Jucá, ainda quando Ipanguaçu era um pequeno povoado chamado Sacramento. Pois bem, viajando em cima da corroceria de um caminhão, de Natal com destino a cidade de Macau (RN), em companhia do seu colega Patativa também renomado poeta cordelista potiguar, este reclamava a viagem de muitos tropeços, dizendo: "Eu acho que nossa viagem não vai ser muito sublime"! "Chico pegou na deixa, versejando de tal modo:

Se o colega não está
Achando a viagem boa
Você é pássaro, eu sou peixe
Eu mergulho e você voa
Você volta para o ninho
Eu volto a minha lagoa.

sábado, 8 de novembro de 2008

DEDICATÓRIA

O sociólogo potiguar Gilberto Freire de Melo, de Pendências, no Vale do Assu, têm vários livros publicados. É gostoso ler o que Gilberto escreve. Breve irei transcrever com sua permissão, alguns artigos do seu livro intitulado "Virgindade Profanada". Dele, o escritor, recebí o livro sob o título "Absurdos Gramaticais". Pois bem, naquele volume está escrito a sua decatória que muito me emociona, que diz assim: "Fanfa, pela lucidez de Chisquito, pelas Fulores de Renato, pelas amarguras de Seu Caldas, pelas saudades de D. Gena, não devemos deixar apagar-se a chama da cultura que ainda resta no Açu".

Natal, 05.05.06

COMENTÁRIOS

Oi Fanfa! tenho lido sempre o seu blog. É muito gostoso voltar a minha terra através de você. Éramos parentes do poeta Caldas? Tio Moacir sempre me contava histórias deles... a que mais me lembro aconteceu na pensão aonde ele titio morava - o dono pediu gentilmente para ele deixar armar uma rede para alguém a quem ele não podia faltar. Era então o poeta Caldas! titio observava que ele escrevia muito e na sua ausência começava a ler seus escritos. Finalmente o poeta descobriu com alegria quem era titio Moacir e o parentesco que tinham. Que perda tivemos com a partida do meu mestre (titio). Felizmente tem pessoas como você que não deixam morrer nossa cultura assuense com tantos intelectuais, poetas e tanta inteligência...

(O comentário referenciado acima, datado de 7 de novembro, é de Cinara de Medeiros Marinho Andrade, que mora há mais de duas décadas no Canadá. Mas nunca esqueceu as suas origens de potiguar, com raízes em Natal, Assu, Ipanguaçu, Goianinha. Cinara é também da família Lins Caldas (do poeta João Lins Caldas). O Moacir que ela se refere, era natural do Assu, seu tio pelo lado materno, um dos maiores poetas do Rio Grande do Norte, bem como um dos maiores da propaganda moderna no Brasil. Foi ele (já contei aqui neste blog), o pioneiro do Marketing político no Brasil. Ele deixou de poetar ainda jovem, para se tornar empresário no Rio de Janeiro. Faleceu aos 87 anos de idade naquela capital carioca, no última dia 4 de outubro. Neste blog já fiz comentários sobre o cidãdo e o poeta João Moacir de Medeiros). Fica o registro e a saudade! Obrigado Cinara pelo elogio ao meu trabalho. Abraços a todos vocês.

POESIA

RECORDANDO...

Como a vida é transitória e boa!
Ontem, eu chorava,
Quando os barcos de papel
Que eu atirava,
Mergulhavam nas águas da lagoa.

Hoje, é o contrário:
Extingo os meus escolhos,
Mergulhando os meus olhos de poeta,
No lago verde
Dos teus lindos olhos.

Renato Caldas
(Transcrito do seu livro intitulado Fulô do Mato, segunda edição)

POESIA

AO SERENO IDEAL DOS MEUS SONHARES !

Por ti, velho ideal dos meus sonhares,
Muitos me maldizem e me despresam.
Chamam-me louco, e as coisas que que eles presam
São outras coisas que não são teus lares...

Que importa a mim o mal desses olhares.
A praga dessas boucas que não rezam?
Cruz ou consolo, os sonhos que me pesam
Serão meus companheiros seculares...

Mal grado as tempestades que conheço,
O meu prazer não revelado e pouco,
As injúrias que sofro nesta lida,

És tu o sonho por quem vivo e cresço...
Que eu seja eternamente eterno louco
E nunca deixe de sonhar na vida!

João Lins Caldas
Assú, 8.8.1909

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

POEMA

Azul é o sonho, azul é a cor
Da ilusão do teu consolo.
Do teu querer, do teu amor
Azul é o solo!

Eu poeta e sonhador,
Fibra por fibra hoje descolo
O beijo teu, do teu rigor...
O beijo colo!

O lírio d´alma no teu colo,
Descolo o lábio do rigor...
O beijo colo!

João Lins Caldas

domingo, 2 de novembro de 2008

IMEIOS (COMENTÁRIOS) RECEBIDOS

Amigo Fernando:

Grato pela generoza citação dos meus textos no seu blog. Muito me ufana o seu estímulo e a sua amizade. Disponha sempre e fique com o meu fraternal abraço.

Valério Mesquita
Conselheiro do Tribunal de Contas (RN)
30.10.2008

Parabéns a Fernando Caldas, pela iniciativa de divulgar os poetas e poetizas da nossa Assu.

Amariacaldas
22.10.2008

A Cada acessada em seu blog me sinto culturalmente alimentado... parabéns pelo seu blog Fanfa.

thiagomoura
30.10.2008
A charge inserida na capa da plaquete (de minha autoria) acima, é do grande Chargista que foi Edmar Viana. Ele inspirou-se numa estória de Walter de Sá Leitão que foi prefeito do Assu-Rn (1972-75). Naquela plaquete, data de 1998, eu conto a estória de Walter, de tal modo: Walter viaja a Brasilia em busca de recursos para o seu município. No gabinete do deputado federal Vingt Rosado, é advertido pela secretária daquele parlamentar mossoroense: "Prefeito, a calça do senhor está rasgada no fundo". Walter não se fez de rogado: "Moça, é que na minha terra no lugar do paletó, a moda é calça lascada atrás".

POESIA

(Doces em formato de caixão - arquivo do bol)
Neste dia "de todos os mortos", vale a pena citar o melancólico bardo assuense João Lins Caldas. Ele tinha muita obsessão pelo tema morte e acreditava na reencarnação. Vamos conhecer e reviver a poesia Linscaldiana, nos poemetos sem epígrafes que ele produziu, conforme transcrito abaixo:
I

Meus mortos vivos nunca apodreceram.
Serei as dores alucinadas
As virgens que se fecharam mortas
As rosas desfolhadas das rozeiras desfolhadas
Mortas, mortas...
Morto meu pai no seu caixão fechado.

II

A morte é o velho tema sempre novo.
Deus, Natureza é a Lágrima são um.
É a trindade das Lágrimas do povo...
O Mal na vida é o grande bem comum.

III

A vida pedi como quem pede um beijo na face,
Que ela, a vida, não me negasse...
Passou a vida, não me quis ver...
- Ora morrer!
Morrer é a vida de que se nasce...

RELÍQUIA DA POLÍTICA ASSUENSE II

Propaganda política de Walter de Sá Leitão quando disputou a prefeitura (sem sucesso), com Maria Olímpia Neves de Oliveira (Maroquinhas), em 1962. Foi uma eleição das mais acirradas da história política do Assu. Walter perdeu a eleição por, salvo engano, 428 votos. Maria Olímpia atualmente reside em Brasilia há mais de trinta anos, onde é funcionára pública federal aposentada. Walter faleceu em 1985, E o seu nome ele empresta ao Campus Avançado do Assu (Universidade). Walter pertencia ao partido da UDN e tinha o opoio político do então deputado Edgard Montenegro e Maroquinhas do PSD, apoiada pelo também deputado Olavo Montenegro.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

IGREJA MATRIZ DE ASSU

Igreja Matriz de São João Batista (Freguesia de 1726) é uma obra arquitetônica da antiguidade das mais belas do Rio Grande do Norte. Fora construída pelos índios mansos do Caicó ou Apodi por iniciativa de Manuel Lins Wanderley. Celso da Silveira (artigo intitulado Breve Memória da Freguesia de São João Batista do Assu) depõe que a sua construção deu-se início em 15 de julho de 1760 e que há notícia que em 1746 já havia um templo de madeira e barro. E vai mais adiante aquele escritor potiguar de Assu afirmando que em 1850 a 1857 aquela igreja foi construída inteiramente. O altar daquela igreja fora construído segundo Maria Carolina Caldas Wanderley (Sinhazinha Wanderley) em 1863 e no ano de 1907 foram abertas as arcadas laterais daquele templo religioso, bem como o piso revestido de mosaico pelo padre Antônio Brilhante de Alencar. A sua construção foi de iniciativa de Manuel Lins Wanderley (Coronel Wanderley) que também doou a imagem de São João Batista. o padroeiro.

Fernando Caldas


domingo, 26 de outubro de 2008

JORGE FERNANDES, O POTIGUAR PRECURSOR DO MODERNISMO

Na década de 20 escandalizou a sociedade natalense. Agora, sua obra é fonte de pesquisa para vestibulandos

O início do século XX caracterizou-se pela tentativa de renovação de valores artísticos e culturais e foi marcado, no continente europeu, por violenta crise que desencadeou duas grandes guerras e profundas transformações na vida política, econômica e social mundial. Essas mudanças afetaram a arte ao ponto de surgirem, vários ismos que significam os movimentos artísticos das vanguardas. Em Natal, sabe-se a respeito da euforia de um grupo de intelectuais que conhecia os novos preceitos poéticos, no entanto há apenas uma única produção literária inovadora, a de Jorge Fernandes", afirma a pesquisadora e escritora, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, das disciplinas Teoria da Literatura e Semiótica, Maria Lúcia de Amorim Garcia que foi a responsável pela introdução e organização da 5. Edição revisada do "Livro de Poemas de Jorge Fernandes" que será lançado hoje, na Praça Cívica do Campus Universitário durante a CIENTEC/2008, no estande da Pró-Reitoria de Extensão . Segundo a professora Maria Lúcia, "o reitor pediu que eu organizasse essa obra, porque as duas anteriores, estava com muito erros. Sem contar, a necessidade e a importância, por ser um tema que nos últimos anos aparece com assiduidade como questão de vestibular. Fiz com muito carinho esse trabalho porque admiro Jorge Fernandes pela sua obra extraordinária". Na época da revolução cultural modernista, nos meados de década de 20, a cidade de Natal ainda se encontrava numa espécie de transição da vida provinciana para a moderna. A vida cotidiana brindada pela regionalidade e seus costumes e começava a ter que se habituar com os elementos modernos que se faziam cada vez mais presentes no dia-dia dos potiguares, como: o avião, o automóvel, a luz elétrica, entre outros. Com todas essas novidades os intelectuais da época, como Câmara Cascudo, mantiveram a sociedade informada sobre as transformações culturais ocorridas no país, e o potiguar Jorge Fernandes, cuja poesia conseguiu sintetizar os aspectos mais significativos de toda uma tradição. Ele é considerado um dos precursores da poesia moderna no Brasil. Proprietário do Café Magestic, naquela época era o ponto de encontro de populares e ilustre de Natal, esse poeta viveu todo o período de deflagração e desenvolvimento do Modernismo no estado. Contribuiu em jornais e revistas da época e produziu obras para o teatro. Em 1927, editou sua primeira obra, o "Livro de Poemas". O autor rompeu com as formas antigas de poetar, iniciando o verso livre, sem rima, cantando as coisas mais prosaicas possíveis, o que causou escândalo na província conservadora. A obra de Jorge Fernandes é considerada referência para o período e fizeram com que a obra tivesse repercussões fora da região Nordeste". Em 1964, Veríssimo de Melo publicava o estudo "Dois poetas do Nordeste", da Coleção "Aspectos", do Ministério da Educação e Cultura, abordando o trabalho de Jorge Fernandes e Ascenço Ferreira. Veríssimo de Melo disse "Jorge Fernandes foi o mais autêntico inovador da poesia norte-rio-grandense. Foi o poeta que sentiu e soube interpretar o cheiro da terra, o sabor das frutas, o perfume das madrugadas no sertão, as cores das árvores, o movimento dos bichos, os sons dos sinos velhos das igrejas, dos chocalhos, o canto dos pássaros, a beleza dos crepúsculos, a quentura do sol gostoso de verão da terra papa jerimum". Manuel Bandeira ficou entusiasmado com a poesia de Jorge Fernandes a ponta de dizer o seguinte: "Jorge Fernandes falou em muitos dos seus poemas com um timbre que é só dele: falou das coisas do Brasil com o sabor que é só dele; aquele seu livro deve estar na biblioteca de todos os brasileiros". Outro admirador do poeta potiguar foi Mário de Andrade que fez o seguinte comentário: "O admirável "livro de Poemas" que publicou no ano passado (1927) é isto: uma memória guardada nos músculos, nos nervos, nos estômagos, nos olhos, das coisas que viveu. O livro pode ser um bocado irregular pelos tiques de poética antiga, ainda mais humanamente brasileiras da poesia contemporânea".


Reporte: Daniel Pacheco


(Artigo transcrito do Jornal de Hoje, 24.10.2008

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

VALÉRIO MESQUITA, DE "SEU MESQUITA"

Primeira edição de "Poucas e Boas", 1999

O escritor potiguar de Macaíba chamado Valério Mesquita é um dos bons autores do Estado. Ele têm diversos livros publicados. Será que é a toa que ele é membro da Academia Potiguar de Letras? Por sinal, com muita honra, ele é quem faz a apresentação do livro sob o título "Renato Caldas, de Cabo a Rabo" (Poeta de Fulô do Mato), organizado por Fernando Caldas (autor deste Blog) que em breve será publicado. O referido livro de Renato é feito de suas poesias (algumas inéditas), seus causos, suas estórias e ditos espirituosos, além de contar a sua fantástica trajetória como "romântico caminheiro", conhecendo o Brasil de ponta a ponta. Pois bem, Valério no final deste mês, publica a segunda edição do seu livro intitulado "Poucas e Boas", que vem mais rico em estórias pitorescas "de Macaíba de Seu Mesquita e Adjacências", no seu próprio dizer. Deleitamo-nos com algumas estórias que está no volume referenciado acima, que transcrevo adiante: 


1) A imagem que a memória nos desenvolve do saudoso ex-deputado Asclepíades Fernandes é a daquele homem taciturno, de baixa estatura, bigode crespo que escondia e parecia ser o responsável pelos seus longos silêncios. Mas, o equipamento facial inatingível era o cigarro, que nele assumia o aspecto de instituição permanente ou do próprio dogma constitucional. Certa vez, deputado oposicionista, adentrando atrasado no plenário da Assembléia, no auge de uma importante votação, é inopidamente interpelado pelo presidente: "Sim ou não, deputado Asclepíades?". Ainda de pé, sem tirar o cigarro da boca, nem entender os sinais de socorro dos companheiros, virou-se para proferir as mais longas palavras da sua legislatura: "Totalmente não!". O pior é que era SIM. Azar dos diabos. 2) Neto Correia passou-me essa do ex-prefeito de Cerro-Corá, o famoso Zé Amaro. Fã do futebol. Zé Amaro foi assistir o clássico ABC x América, que decidia o campeonato potiguar. O Machadão estava repleto e ao redor, centenas de veículos. Homem do interior, precavido, foi logo imaginando abrigar o seu veículo em lugar seguro. Viu a caixa d´água do estádio como ponto de visível referência e lá estacionou. Durante o jogo, tomou umas e outras, reencontrou amigos e andou pelas gerais e arquibancadas. Findo o jogo, na saída do estádio desorientou-se. Não viu a caixa d´água, o ponto de orientação. Rodou para direita, para a esquerda: nada. Enfim, estava só e desesperado. Um popular que esperava um coletivo, vendo a sua impaciência indaga o que se passa: "Sei não rapaz, que tenham levado o meu carro até que eu acredito mas com a caixa d´água e tudo eu estou em dúvida".

terça-feira, 21 de outubro de 2008

VIDIO - ENTREVISTA DO POETA ASSUENSE PAULO VARELA COM JÔ SOARES


CARICATURA DO ESCRITOR CELSO DA SILVEIRA

(Arquivo de Wan Gurgel)

RELÍQUIA DA POLÍTICA ASSUENSE I


"O amigo da onça".

Propaganda eleitoral de Walter de Sá Leitão quando disputou a prefeitura do Assu, contra Maria Olímpía Neves de Oliveira (Maroquinhas), em 1962. Walter (ele era meu padrinho e tio afim) perdeu por 428 votos. Foi uma campanha das mais tensas e intensas da terra da terra assuense. Walter tinha o apelido de "Golinha" e Maria Olímpia era chamada na política local de "A Onça".

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O POETA CALDAS

O poeta assuense João Lins Caldas (quando jovem) a esquerda, ladeado pelo romancista José Geraldo Vieira. Rio de Janeiro, 1924. Caldas é personagem do romance sob o título Território Humano, 1936, encarnado no personagem (segunda fase do romance) "Cássio Murtinho", de autoria do referido escritor, amigo íntimo de Caldas nos seus tempos de Rio de Janeiro, 1912-27 e 1930-33.

domingo, 19 de outubro de 2008

WALFLAN DE QUEIROZ, O POETA MÍSTICO

O poeta Walflan de Queiroz pintado por Newton Navarro

Walflan Furtado de Queiroz (1930-1995) era natural de São Miguel, cidade localizada na região do alto oeste do Rio Grande do Norte. Filho de Letício Fernandes de Queiroz e Raimunda Furtado de Queiroz (por sinal, Letício ou doutor Letício como era mais conhecido, era farmacêutico em Natal, irmão de minha avó paterna Odete Fernandes de Queiroz Caldas que residia na cidade de Assu. Era ele, Walflan, meu primo em segundo grau).

Walflan formou-se pela famosa Faculdade de Direito do Recife mas nunca exerceu a profissão. Se tivesse exercido certamente teria advogado com brilhantismo e notável saber saber jurídico.. 

Tipo baixo, gestos nervosos, fumante compulsivo. Ele teve uma juventude boêmia. Intelectual, poeta dos melhores. Conheci aquela figura que engrandece as letras potiguares, nos idos de setenta, na calçada do Café São Luiz, em Natal declamando exaltado um poema de Rimbaud. Apresentei-me a ele que me tratou com certa distância. Logo entendi. A última vez que estive com ele foi na clínica Santa Maria (quando ele estava em tratamento psiquiátrico). Eis o seu poema intitulado 'Autobiografia', cornforme adiante:

Nasci sob o signo de São Bento José de Labre. 
Pedi esmola na porta de Notre Dame.
E fui encontrado morto numa rua de Madrid.
O primeiro hino foi meu, o primeiro canto
Que comoveu a alma de Francesca de Rimini. 
Fui monge, amei a virgem.
Fui marinheiro, estive no oriente.
Mais tarde, pertenci ao grupo dos poetas malditos 
E escrevi o meu último poema para uma menina espanhola.

Walflan publicou oito livros intitulados O Tempo da Salvação, 1960, O Livro de Tânia, 1963, O Testamento de Jó, 1967, A Colina de Deus, 1968, Nas Fontes da Salvação, 1970, Aos Pés do Senhor, 1972 e A Porta de Zeus, 1974. 

Walflan viveu grande parte da sua vida na solidão, porém apaixonadamente. Vejamos o poema abaixo trancrito: 

Três amores 
E uma solidão. 
Irene, Tânia 
E Herna  
Vi Abraão  
No monte moriá  
Três amores 
E uma solidão, 
Irene Azul 
Tânia amarga 
E Herna triste.

Há informações que Walflan "conhecia vários idiomas. Lia, escrevia e falava em latim. Era fluente em Francês e inglês". 

Ele era da Marinha Mercante e percorreu o mundo. O produtor cultural Eduardo Gosson depõe que Walflan nas suas andanças "apaixonou-se por uma bailarina cubana, gostou das noites da Martinica e quase casou-se com uma colegial de Buenos Aires". É lindo o seu poema Auto Retrato: 

Não tenho a beleza de Rimbaud,
nem o rosto torturado de Baudelaire.
Tenho sim, olhos negros, Como os olhos de Poe. 
Meus cabelos são soltos, em desalinho como os de algum Anjo ou demônio.
Minha pele, queimada eternamente pelo sol, tem sal do mar e a cor morena dos que são náufragos. 
Minhas mãos são pequenas, tristes embora como mãos de alguém que só as estendeu para o Adeus!

(Fernando Caldas)


UM POETA BOÊMIO DO ASSU

Júlio Soares Filgueira (1898-1954) era natural do Assu. Ele está antologiado por Ezequiel Fonseca Filho, no seu livro 'Poetas e Boêmios do Assu", 1984. Depõe aquele escritor na referenciada antologia que Júlio era "arredio, desconfiado, valente e audaz, muito cedo entregou-se à boemia, o que constitui o traço frizante de sua vida". 

Ainda, no início da sua juventude, regressou ao Rio de Janeiro onde começou a escrever poesias. Conta ainda Ezequei Fonseca que Júlio herdara de seus pais e jogou fora em razão da sua vida boemia. 

Naquela capital carioca, Júlio fora companheiro de quarto de Ezequiel, numa pensão da rua do Catete, daquela então capital federal, no tempo em que  estudava medicina. E escreveu aquele bardo assuense, o soneto transcrito adiante:

Este meu riso, triste e macilento.
Perdido sobre o peito dolorido,
Bem demonstra o pesar e o sofrimento
De um desgraçado e de um desiludido.

Este meu riso, sem contentamento
Este meu vago olhar amortecido
São os sinais amargos do tormento
Da vida indesejável de um perdido

Vivo sempre a beber, de bar em bar,
Afogando num cálice de aguardente
A dor que faz meu peito pensar?

Chorando ou rindo, vou passando a esmo.
E no vício morrendo lentamente
Fazendo assim o enterro de mim mesmo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

POESIA

O poeta Caldas aos 68 anos de idade

O município do Assu (minha terra natal querida) completa hoje 163 anos de emancipação política, de Vila Nova da Princesa a cidade de Assu. Nada justo do que homenageá-la nas palavras do grande bardo das letras assuenses, norte-rio-grandenses e porque não dizer brasileiras, chamado João Lins Caldas que, em homenagem a terra que escolheu para viver até os últimos dias de sua vida, escreveu o poema, datado de 17 de abril de 1967 (poucos dias antes de falecer), conforme abaixo transcrito, sob o título "Índio Janduí" (os primeiros habitantes da Ribeira do Assu), que veremos para o nosso deleite:

Sou Janduí, sou da taba,
Meu patrimônio ele só,
Riqueza que não se acaba,
Tem a várzea e o piató

Peixe, banho de lagoa
Riqueza que se conta mais
Bem vastos carnaubais.
Filho da terra dileta
O bravo de Curuzu
Nosso, um destino poeta,
Grandeza que é mesmo o Açu.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

UM GIGANTE DA PROPAGANDA BRASILEIRA

"A publicidade é uma forma de linguagem poética", dizia o publicitário João Moacyr de Medeiros (1921-2008). Ele era norte-rio-grandense do Assu. No Rio de Janeiro, viveu durante mais de sessenta anos. Tipo alto, magro, mistura de potiguar com carioca, bom palestrador. Era prazeroso ouví-lo narrar a sua fantástica tajetória, vivida principalmente na propaganda brasileira. Fundou em 1950, e comandou durante quarenta anos, a JMM Publicidade (sigla do seu nome). Antes teria trabalhado na revista PN. "Eu sempre fui um repórter", dizia Moacyr que começou a fazer propaganda e tornou-se conhecido rapidamente, ganhando credibilidade. O Café Paulista foi seu primeiro cliente.
Já famoso pelas suas criações genias, o banqueiro mineiro Magalhães Pinto contratou sua agência para fazer a publicidade do Banco Nacional de Minas Gerais (que foi seu cliente durante trinta anos). Aquela casa bancária chegou a ser considerada como um dos cinco maiores bancos privados do Brasil. E quem não se lembra da propaganda (do guarda chuva) que abria no final dos anos sessenta e na década de setenta, o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão. O renomado publicitário Cid Pacheco, ja falecido (que participou ativamente da campanha de Hugo Chaves a presidência da Venezuela), que foi parceiro de Moacyr durante décadas na JMM, comenta que o guarda chuva "foi um dos maiores símbolos promocionais da publicidade de todos os tempos".
Moacyr em 1954, foi o protagonista da primeira eleição marketizada no Brasil, convidado pelo deputado Magalhães Pinto para fazer a campanha de Celso Azevedo, pela UDN (um jovem engenheiro que o povo não conhecia), para prefeito de Belo Horizonte, contra Amintas de Barrros, pelo PSD, que tinha o apoio de Juscelino Kubitschek e do PTB de Getúlio Vargas. Moacyr, ao chegar naquela terra mineira e, "mineiramente", no seu próprio dizer, escultou os taxistas, os barbeiros, entre outras pessoas daquela sociedade, descobriu e explorou que Celso Azevedo seria o primeiro belo-horizontino a governar aquela cidade, produziu uns versos que mandou musicar e introduziu um jingle para rodar no rádio (entre outras estratégias que usou), que diz assim: "O povo reclama com razão / minha casa não tem água / minha rua não tem pavimentação / mas não basta reclamar, meu senhor / é preciso votar num candidato de valor".
A moda pegou e, em apenas três semanas, Celso Azevedo que somente tinha o apoio de Magalhães Pinto e do PDC (um partido de pouca expressão eleitoral), ganhou a eleição para Amintas de Barros tido como um candidato populista e imbatível em Belo Horizonte.
Para a conceituada jornalista Anna Ramalho, do Jornal do Brasil (Coluna Opinião), num artigo datado de 19 de fevereiro de 2006, depõe que Medeiros "é um gênio da propaganda. O Jornal Nacional foi assim batizado por sua sugestão: na época do seu lançamento, era patrocinado pelo Banco Nacional, da família Magalhães Pinto, principal cliente da agência". E vai mais adiante aquela brilhante jornalista, ao dizer que Moacyr teve outras invenções como " o tema ponte aérea, criado para Real Aerovias, ainda na década de sessenta". E aquela ex funcionária da JMM, não dispensa elogios a pessoa do seu ex patrão, afirmando que "Medeiros é um exemplo de pessoa descente, do brasileiro que soube ganhar muito com o seu trabalho, mas sempre de uma forma digna, sem cambalachos e maracutaias".
Já, o publicitário Jonga Oliveira no seu blog "Casos" da Propaganda", comenta que Moacyr "foi muito importante na história da propaganda. Não somente a carioca, como também a brasileira". E vai mais adiante aquele agente de publicidade, ao dizer que "a sua JMM constituiu-se, já na década de cinquenta, uma das agências pioneiras na reformulação da comunicação no Brasil".
Afinal, não se fala (ele presidiu, salvo engano, a Federação Nacional das Agências de Propaganda) da história da propaganda moderna no Brasil, sem antes colocar João Moacyr de Medeiros, em posição de destaque.
Pena, que ele veio a falecer no Rio de Janeiro, aos 87 anos de idade, no último deia 5, e cremado no dia 7, deixando um filho chamado Antônio Carlos de Medeiros, e uma neta (residentes na capital fluminense), além de sua irmã Zaíra de Medeiros Marinho (residente em Natal), sobrinhos, parentes e amigos, pelo país afora.
Afinal, muito me honra ao dizer que ele, Moacyr, é meu primo próximo pelo lado da tradicional família potiguar os Lins Caldas. Descança em paz Moacyr. A morte, no entender de Nietzsche, "deixa de ser terrível, quando a vida está consumada. Você consumou a sua".

terça-feira, 7 de outubro de 2008

RÁDIO AMADOR SALVOU O VALE DO ASSU

Um grito mudo. Seriam assim os pedidos de socorro das vítimas da enchente no Vale do Assu, em 1964, não fosse o trabalho da rádio amadora do aposentado Nilo Fonseca. As cidades ilhadas recebiam os serviços da Telern anos depois. Sem acesso rápido por terra ou mar, a comunicação era ainda mais essencial. E toda ela partiu de uma casa pequenina de número 605, situada à Rua Maxaranguape, no Tirol. De lá, Aluízio Alves e sua comitiva despachava as providências do dia. O que o governador sequer desconfiava era que todos as chamadas efetuadas eram monitoradas pelo corpo militar da ditadura.

Naquele tempo, Nilo Fonseca brincava com o rádio amador montado em sua casa como hoje os jovens usam as salas de bate-papo na internet. Desde 1961, discava uma chamada geral a espera de uma semana vinda de alguma parte do Brasil ou estrangeiro. Filho de Assu, durante a enchente Nilo procurou notícias de sua cidade. A resposta (ou câmbio) veio do primo assuense Tarcísio Amorim. Junto, o pedido alarmante de socorro. "Pediram-me para entrar em contato com o governador", lembra. Nos 20 dias seguintes, Aluízio Alves batia a porta da casa de Nilo Fonseca para comunicar o despacho do dia.

"Acordava cedo todo dia para arrumar a casa e preparar o cafezinho para o pessoal. Aluízio chegava acompanhado do Chefe da Casa Civil, Agnelo Alves e outros secretários". A comunicação direta de Aluízio em Assu era com o coronel Leão, então secretário de agricultura do governo. "O coronel pediu urgência da Sudene no envio de mantimentos. Aluízio disse que iria tentar. Quando avisei da possibilidade do contato pelo rádio amador ele ficou admirado. E quando o superintendente da Sudene, general Albuquerque Lima respondeu a chamada. Aluízio quase cai pra trás sem acreditar", recorda Nilo.

Estupefato com o alcance e importância do rádio amador, Aluízio Alves interligou o prefixo da rádio à transmissão da Rádio Cabugi. Diariamente grande parte do estado tomava conhecimento das providências tomadas pelo governo estadual. Essa ferramenta poderosa de comunicação logo despertou a atenção do alto comando militar. "O general da guarnição de Natal (situado onde hoje está o Museu Câmara Cascudo) chamou-me para entregar as conversações diárias feitas por Aluízio. Todos os dias às 17h entregava a fita ao general. Era a ditadura".

Nilo Fonseca lembra indignado da ira do general ao saber do envolvimento do arcebispo dom Eugênio Araújo Sales na ajuda às vítimas. Dom Eugênio havia conseguido um comboio para transportar toneladas de mantimentos até Angicos e de lá até Assu, por caminhões. "O general disse: "Até esse padre está metido nisso". O general dizia que tudo tinha de passar por ele". E concluiu: "Foi um período gratificante. Pude ajudar de alguma forma o povo de minha cidade. Um ano depois fui um dos ilustres da Festa das Personalidade, promovida por Paulo Macedo todos os anos no Aeroclube".

(Transcrito do jornal Diário de Natal, caderno Cidades, 13 de abril de 2008).

Do blog: Nilo Fonseca referenciado no artigo acima, é filho do médico Ezequiel Fonseca, que foi intendente do município do Assu, na década de trinta e depois deputado Estadual, chegando a presidir a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte que também era o eventual vice-governador do estado por força do cargo de presidente do legislativo estadual.

domingo, 5 de outubro de 2008

SAUDADES DO GRANDE ODILON

Uma das figuras mais encantadoras que conheci e conviví, foi a o inesquecível Odilon Ribeiro Coutinho, mistura de tabajara e potiguar, dividido entre os dois territórios que amava, sem se desligar emocionalmente do seu tempo de estudante de direito, no Recife, cidade que também conquistou seu coração literário, sua vocação incontida de lutar em defesa dos princípios que sempre nortearam sua conduta na vida pública e empresarial.

Jurandyr Navarro, em seu, "Rio Grande do Norte - Oradores (1889-2000)" destacou dois dos seus pronunciamentos, na Câmara dos Deputados, onde representou o Rio Grande do Norte, com brilhantismo e talento.. Intelectual, culto, orador fluente. Em 1964, discordou do movimento militar que derrubou o presidente Jango, filiando-se ao MDB, com a extinção dos partidos, no governo Castelo Branco, logo após as eleições diretas de 1965, para escolha dos governadores estaduais.

Nesse mesmo ano, em novembro, discursou sobre o autor de "Eu e Outras Poesias", "eis aí um homem que, exercitando a poesia, dilatou a linha da morte até a ilimitação da eternidade. Para quem a vida, através do ato de criação poética, não foi senão uma forma de iludir a morte"

Odilon tinha uma excelente cultura literária. Conhecia com profundidade, não somente a vida e a obra do poeta, nascido no engenho "Pau d'árco", mas, também de um outro seu conterrâneo que se notabilzou como romancista do chamado ciclo da cana-de-açucar, o escritor José Lins do Rêgo. Amigo e conhecedor da obra de Gilberto Freire, certa feita, levou-me à residência do autor de "Casa Grande e Senzala", em epipucos, no Recife.

Tinha sido, em 1945, um dos que lutaram ao lado de Gilberto Freire, naquela cidade, contra o Estado Novo e a ditadura de Vargas, um dos líderes da campanha que o elegeu, constituinte no mesmo ano. Aliás, Gilberto Freire, queria que o candidato fosse Odilon, que abriu mão da disputa, dizendo: "Mestre, este lugar, por merecimento, é seu".

O discurso sobre Augusto dos Anjos tem forma de aula, de lição, sobre a obra e vida do poeta que ele chamou "Filho do carbono e do amaníaco que soube retirar dos forjos do seu gênio, o esplendor imperecível de palavras que viverão para sempre. Pois todo aquele que ouvir os versos de Augusto estará assegurando ao poeta a vida eterna".

Sou de uma geração que recitou Augusto dos Anjos, "ninguém, assistiu ao formidável enterro da tua última quimera"... ou "meu coração tem catedrais imensas" um dos seus instantes raros de lirismo.

Em 1965, em plena ditadura, o Congresso violentado com as cassações, fez um discurso em defesa do legislativo, da democracia e das liberdades constitucionais. Ocupou a tribuna para dizer solenemente que estava contra as emendas constitucionais enviadas pelo governo militar, do marechal Castelo Branco e fazia tal declaração, sem o propósito de desaforo, sem bravata, mas, solenemente, com a solenidade dos que aprenderam que a história caminha inexoravelmente em direção da liberdade, dizendo a esta casa, que eu, como representante do povo brasileiro, não posso e não devo concordar com as emendas enviadas pelo poder executivo, recuar, ceder, contraporizar, capitular; esta Casa foi feita antes de tudo para resistir e defender os direitos sagrados do povo".

Era difícil e raro, naquela época, encontrar homens do quilate de um Odilon Ribeiro Coutinho, sem medo, sem baixar a cabeça aos donos do poder, aos que tinham nas mãos as armas para destruir sua carreira que se iniciava, no primeiro mandato parlamentar,

Nesse pronunciamento histórico, ele citou Vevinson, a respeito da perda da liberdade: "nós costumamos perder a liberdade, como costumamos perder o amor. A luta pela liberdade e o amor, não termina nunca... e , finalizou de forma belíssima, como uma premonição. Quando a noite vier, estaremos lembrados das palavras de Maritain, quando os alemães invadiram a sua doce França: "A noite pode ser longa; a noite pode ser negra. Por mais longa e negra que seja ela caminha sempre inevitavelmente para a aurora".

Saudades, do grande Odilon.

Ticiano Duarte (jornalista)
(Transcrito do Jornal de Hoje, 1 de outubro de 2008)

(Eu tive o privilégio de ter conhecido e ouvido nas concentrações públicas, os brilhantes discursos de Odilon Ribeiro Coutinho. Certa vez, nos idos de setenta, no início da minha juventude ouvi logo após um comício que se realizara naquela terra assuense , Odilon contar um pouco da sua trajetória política. Tribuno da melhor qualidade. Fraçois Silvestre (um entusiasta de Odilon), depõe que o discursos de Odilon é "um estudo de sociologia").

Fernando Caldas.


terça-feira, 12 de agosto de 2008

"O POPULAR E A ARTE DE FAZER VERSOS"

"Os eruditos que me perdoem. Sou mais aqueles folhetinhos impressos, compostos para ser cantados ou lidos em voz alta, fiés à fala do povo, sem preocupação com a retórica gramatical. É essa poesia popular declamada e cantada que rima com música. E a música não é irmã da poesia? Que, por sinal, tem sua origem no mundo grego, vem de musa, a inspiradora dos poetas. Os cancioneiros Colocci Braneuí, da ajuda, Vaticana, de Garcia Resende são coleções importantíssimas da poesia lírica trovadoresca.

O que é o canto senão, a exteriorização de um sentimento nascido do estado da alma! Essa, por exemplo, vem de longe. Quem canta seus males espanta. Pois é, sabe-se que homem primitivo soltava seus grunhidos para comemorar os feitos. No período Neolítico já solfejava cantando, acompanhados por instrumentos musicais.

Os egípiçios do Médio Império incluíam canções e poemas dedicados a assuntos da natureza, da vida e da morte para celebrar os mistérios de Osíris e a passagem dos mortos desta vida para o além.

Na Roma do século de Augusto, sob o patrocínio imperial, a literatura latina viveu um dos seus grandes momentos de esplendor. Era a fase das declamações públicas e dos desafios. Da mesma maneira que os antigos gregos faziam no Canto Amebeu.

Séculos e séculos de inspirações e cantos, levando-se em consideração as diversificadas formas instrumentais, como a cítara, o violão, depois a viola. E o cantador nordestino. É a reminiscência do aedo grego Orfeu, cantando ao som de sua lira; do minnesanger (cantor do amor) alemão, Walter de Vogelweide, na idade Média; da poética árabe, que atingiu prestígio com Tarefa e suas picantes sátiras; e vai por aí percorrendo mundo a fora.

Mas, foi no Nordeste do Brasil que o cordel europeu e a cantoria de viola encontraram ambiente propício ao seu desenvolvimento. Uma região de criatório de gado e cantares regionais. A esse respeito falou Miguel Torga: "É mais um povo que pelos séculos dos séculos terá de arrastar um destino próprio, a fazer milagres da pobreza do chão, das vogais da língua, do lirismo da alma".

O século XIX foi pródigo para com a poética popular nordestina, quando milhares de folhetos foram editados e vendidos, inclusive para o sul do Páis.

Os mais antigos eram escritos em quadra e chamava-se verso de quatro pés. Alguns estudiosos do cordel atribuem ao poeta paraibano Silvino de Parauá de Lima (1848-1913) a introdução da sextilha no folheto para melhorar expandir a idéia. O pioneirismo do romance em verso, uma beleza do Romano do Teixeira e Inácio da Catingueira, atribui-se a José Galdino da Silva (Zé Duda), numa versão de uma novela extraída das jornadas do Decameron chamada de "D. Genevra". O mais importante folhetista dessa época foi paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Alcançou prestígio e fama com uma produção de folhetos editados e reeditados, conseguindo grande número de leitores e admiradores, na chamada fase de ouro dos folhetos populares nas feiras nordestinas. Suas obras são verdadeiros clássicos da poética popular brasileira, entre as quais podemos citar: A Donzela Teodora, O Reino da Pedra Fina, Canção de Fogo, O Marco Brasileiro, Os Mártires de Veneza. Existe outro poeta popular tão importante quanto Leandro Gomes. Trata-se de Agostinho Nunes da Costa (1797-1858), respeitado glosador, e tido como precursor da poesia popular nordestina da famosa Escola do Teixeira (PB).

Enfim, precisamos compreender a grande contribuição da tradição popular nordestina a renomados compositores, com a valiosa produção, inserida no cancioneiro nacional, do nível de Chiquinha Gonzaga, Donga, Ismael Silva, Ari Barroso, Noel Rosa, Lamartine Babo, Mário Lago, Adoniram Barbosa, Pixinguinha, Vinícius de Morais, Dorival Caymmi, e outros mais, leitores do cancioneiro popular, da velha guarda consagrada, lembrados ainda hoje, fazendo muito sucesso no mundo da Música Popular Brasileira."

Severino Vicente
Pesquisador e Sócio do IHGRN
(Transcrito do Jornal de Hoje, de Natal, 3.7.2008)

sábado, 2 de agosto de 2008

NATAL É ESCOLHIDA COMO MELHOR DESTINO TURÍSTICO DO BRASIL

A associação da Agências de Viagens Independentes do Estado de São Paulo (Aviesp), através de votação direta de 300 agentes de viagens associados, escolheu Natal como o melhor destino turístico do Brasil, no Prêmio Top Aviesp de Qualidade em Turismo 2007.

A informação foi dada pelo presidente da Aviesp, Willian José Périco, ao secretário de Turismo de Natal, Fernando Bezerril. Ainda será marcada a data para entrega da premição a Natal, que alcançoiu a pontuação nove entre os associados da Aviesp.

Segundo Fernando Bezerril, a premiação faz jus ao trabalho desenvolvido na divulgação de Natal, através da Secretária de Turismo, em todos os eventos promocionais realizados no País e até no exterior. Além disso, aponta a realização do "Natal em Natal".

A Aviesp é a mais poderosa entidade de turismo do interior de São Paulo que é o maior órgão emisor de turistas para Natal e porque reúne os agentes de viagens daquele Estado e promove anualmente durante o mes de abril a Aviestur que reúne os agentes de viagens de todo o País.

Sete Maravilhas

Recentemente, o forte dos Reis Magos ganhou o concurso da revista CAaas - Sete Maravilhas do Brasil. O comunicado oficial também foi feito ao secretário de turismo, Fernando Bezerril, que recebeu o prêmio de Caras, em nome da Prefeitura de Natal, no Salão de Turismo realizado em junho no Parque Anhembi, em São Paulo.

(Transcrito do jornal Tribuna do Norte, de Natal, edição de 1 de agosto de 2008)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

VALE DO AÇU

Feira de negócios terá início

A Secretaria Estadual do Desenvolvimento Econômico (Sedec) e a Câmara de Dirigentes Logistas (CDL) de Assu fecharam um convênio com a Petrobrás para ser a patrocinadora oficial da V Feira de Negócios do Vale do Açu, que vai acontecer de 31 de julho a 2 de agosto, na praça Getúlio Vargas, em Assu.

Presente desde a primeira edição, a Petrobrás já havia anunciado, desde o ano passado, sua intenção em contribuir mais ainda com a realização da Feira, reforçando sua presença na economia da região e interagindo cada vez mais com os empresários locais.

A partir deste ano, a Feira de Negócios ganhou em sua programação uma nova proposta de qualificação e treinamento profissional que vem acontecendo desde o último dia 3 de julho.

O projeto intitulado "Super quinta feira de empreendedorismo e de negócios do Vale do Açu" é aberto ao público e acontece uma vez por semana até o início da Feira, no escritório regional do Sebrae.

São atendimentos personaliados e que ocorrem sempre no período da manhã, além de palestras à noite.

Na quinta-feira (17), a Petrobras e o Sebrae orientaram empresários de todas as áreas produtivas a realizarem os seus cadastros para tornarem-se, de acordo com as exigências legais, novos fornecedores da empresa.

"O objetivo principal está em canalizar o maior volume de recursos de suas compras para as empresas com sede no Rio Grande do Norte, criando maior vínculo com as diferente cadeiras produtivas no Estado", informa Otomar Lopes Cardoso Júnior, coordenador de feira.

A comercialização dos últimos estandes da Feira, que deverá repetir os mais de 100 estandes das edições anteriores, está sendo finalizada pela CDL de Assu.

Estão confirmadas empresas dois segmentos de moda, comcessionárias, supermercados, saúde, alimentação, material e implementos agrícolas, educação, eletrônica, entre outros, além do tradicional artesanato do Vale do Açu.

A programação cultural e artística, também renovada em sua proposta para o ano de 2008, será divulgada ofialmente na próxima semana, com a expectativa de novas atrações e novidades para o público, estimado em 40 mil pessoas durante os três dias do evento. Um evento que deverá incrementar a economia assuense e gerar empregos diretos e indiretos durante o período da feira empresarial.

(Artigo transcrito do jornal Potiguar Notícias, de Parnamirim, edição de 21.6.2008)

sábado, 19 de julho de 2008

JORGE FERNANDES, UM POETA MODERNISTA

O vate natalense Jorge Fernandes (1887-1953) é um dos precursores da poesia moderna no Brasil. Ele era proprietário do Café Magestic, um bar aristocrático e popular que funcionava no bairro Ribeira, da cidade do Natal. Naquele recinto também funcionava a célebre Diocésia, espécie de academia literária. Os poetas como Jayme Wanderley, Renato Caldas, o folclorista Luiz da Câmara Cascudo, era uns dos seus integrantes. Fernandes colaborou em jornais como A República, entre outros da capital potiguar, bem como nas revistas intituladas O Tempo, Pax, O Potiguar (hoje nome de um jornal cultural da cidade natalense). O poeta escrevia versos clássicos e depois virou poeta dos versos brancos, sem métrica, além de ter escrito obras teatrais. O seu livro de estreia intitulado de "Livro de Poemas", foi publicado em 1927, onde vamos encontrar poemas como o intitulado "Rede", que veremos adiante, para o nosso deleite:

Emboladora do sono...
Balanços dos alpendres e dos ranchos...
Vai e vem nas modinhas longorosas...
Vai e vem de embalos e canções...
Professora de violões..
Tipóia dos amores nordestinos...
Grande... longa e forte. pra casais
Berço de grande raça

SUSPENÇA...

Guardadoras de sonhos
Pra madorna ao meio-dia
Grande... côncova...
Lá no fundo dorme um bichinho...
- ô... ô... ô... ôô... ôôôôôôôôô...

- Balança o punho pro menino durmir...

Bem como este outro poema sob o título Remanescente, transcrito abaixo:

Sou como antigos poetas natalenses
Ao ver o luar sobre as dunas...
Onde estão as falanges desses mortos?
E as cordas de violões que eles vibraram?
- Passaram...
E a lua deles ainda resplandece
Por sobre a terra que os tragou
E a terra ficou
E eles passaram!
E as namoradas deles?

E as namoradas?
São espectros de sonhos...
Foram braços roliços que passaram!
Foram olhos fatais que se fecharam!

Ah! Eu sou a remenescença dos poetas
Que morreram cantando...
Que morreram lutando...
Talvez na guerra contra o Paraguay!










segunda-feira, 7 de julho de 2008

ARTIGO

"O centenário de um senhor parlamentar

Djalma Aranha Marinho nasceu vocacionado para servir ao parlamento na plenitude democrática ou ameaçado pelas intérpéries ocasionais do autoritarismo. Com prudência e saber jurídico deu sua colaboração ao país quase à beira de colapso constitucional em 1961, quando os militares se opuseram à posse do seu vice-presidente João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros. Foi o relator da emenda constitucional que instituiu o parlamentarismo e evitou o impasse que teria gerado um conflito imprevisível assegurando a posse de Goulart no dia 7 de setembro daquele ano.

Contrário a licença para processar o então deputado Márcio Moreira Alves solicitada pelo governo militar ao STF, naquela crise que resultaria na edição do AI-5 em 1968, defendeu com veemência a inviolabilidade da instituição, embora não tivesse concordado com o discurso inoportuno do deputado oposicionista. Valeu-se da frase do escritor espanhol Calderon de La Barca para concluir suas palavras na sessão histórica da Cãmara Federal no dia 12/12/1968: "Ao Rei tudo, menos a honra". Após o discurso, renunciou a presidência da Comissão de Justiça, em sinal de protesto ao gesto abusivo do abítrio.

Sentia-se bem no parlamento e útil a instituição na condição de guardião de suas prerrogativas constitucionais e na condenação aos excessos praticados por governos populistas com viés autoritário. Integrar aquela turma privilegiada pelo saber jurídico e intelectual, representava uma láurea consagradora.

O deputado Djalma Marinho integrou o grupo e foi bem recebido por todos. Destacavam-se, dentre outros, Carlos Lacerda, Afonso Arinos, Bilac Pinto, Pedro Aleixo, Miltom Campos, Aliomar Baleeiro, Prado Kelly, Adauto Lúcio Cardoso e Oscar Correia, para citar apenas alguns que se tornariam mais tarde juristas consagrados e ministros do Supremo Tribunal Federal. Na Câmara, as galerias superlotadas aplaudiam aqueles oradores que incendiavam o plenário da Casa pelo brilho da oratória demolidora e impecável. A "banda da UDN" tocava afinada com partitura até de olhos fechados.

Apesar da timidez que o caracterizava, avesso a qualquer tipo de publicidade, o parlamentar norte-rio-grandense conseguiu obter notoriedade entre seus pares, tendo sido indicado para as relatórias de projetos polêmicos como a fusão do estado da Guanabara com o Rio de Janeiro e da CPI do acordo Globo/Time-Life, este lesivo aos intereses nacionais, segundo afirmou o deputado em seu parecer. Desincumbiu-se airosamente das tarefas difíceis, contrariando poderosos, graças à responsabilidade de renomado jurista.

Iniciou sua vida pública como deputado estadual constituinte de 1946 pela UDN, ao lado de figuras como Dix-Huit Rosado, Mário Negócio, Gomes Lemos, José Gonçalves, Pereira de Macedo, José Xavier, Moacyr Duarte e outros. Obteria mais tarde sete mandatos de deputado federal. Perdeu duas eleições majoritárias que lhe marcaram profundamente: o governo do Estado paras Aluízio Alves em 1960 e o senado da República para Agenor Maria em 1974.

Mas, a derrota que mais o machucou foi a perda da presidência da Câmara Federal para o colega Nelson Marchesan em 1980, num momento em que o poder Legislativo massacrado pelo regime vigente começava a reagir à condição de vassalo do Executivo, que tantas vezes tinha estuprado sua autonomia em nome do arbítrio. A derrota mexeu com sua estrutura emocional. Morrera pouco tempo depois.

A sala da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara tem o seu nome. Hoje, foi homenageado lá, pela pasagem do centenário ocorrido no último dia 30. Uma lembrança justa a quem teve uma atuação marcante no parlamento nacional. Infelismente, no Rio Grande do Norte, a data foi completamente esquecida.

Lamentavelmente, temos desapreço à memória dos homens públicos que se portaram com correção na vida pública".

Autor: João Batista Machado
(Transcrito do "Jornal de Hoje", 7/6/2008)

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