sexta-feira, 6 de abril de 2012

A FLOR DO MARACUJÁ



Encontrando-me com um sertanejo   
Perto de um pé de maracujá 
Eu lhe perguntei:  
Diga-me caro sertanejo   
Porque razão nasce roxa  
A flor do maracujá?
Ah, pois então eu lhi conto   
A estória que ouvi contá 
A razão pro que nasci roxa  
A flor do maracujá
Maracujá já foi branco  
Eu posso inté lhe ajurá  
Mais branco qui caridadi  
Mais brando do que o luá
Quando a flor brotava nele   
Lá pros cunfim do sertão 
Maracujá parecia   
Um ninho de argodão
Mais um dia, há muito tempo  
Num meis que inté num mi alembro  
Si foi maio, si foi junho  
Si foi janero ou dezembro 
Nosso sinhô Jesus Cristo  
Foi condenado a morrer 
Numa cruis crucificado  
Longe daqui como o quê
Pregaro cristo a martelo   
E ao vê tamanha crueza  
A natureza inteirinha  
Pois-se a chorá di tristeza 
Chorava us campu   
As foia, as ribera  
Sabiá também chorava  
Nos gaio a laranjera 
E havia junto da cruis   
Um pé de maracujá 
Carregadinho de flor 
Aos pé de nosso sinhô
I o sangue de Jesus Cristo  
Sangui pisado de dô 
Nus pé du maracujá  
Tingia todas as flor
Eis aqui seu moço  
A estoria que eu vi contá  
A razão proque nasce roxa  
A flor do maracujá. 

Catulo da Paixão Cearense

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ALICE WANDERLEY poetisa de ilustre familia do Assu poético. Tipo baixa, olhos negros, se não me engano. Conheci dona Alice já usando bengala...