LUGARES CONHECIDOS, COMO A CASA DO
ITALIANO LETTIERI, NA RIBEIRA, ONDE HOJE É O CONSULADO, E OUTROS
CURIOSOS COMO O ESCRITÓRIO DO FRANCÊS MARCEL GIRARD, REPRESENTANTE DA
AIR FRANCE EM NATAL, SÃO RECORTES DA HISTÓRIA QUE ROSTAND MEDEIROS
ESMIÚÇA COM MUITA PAIXÃO.
Ramon Ribeiro – Repórter – Tribuna do Norte
Fonte – http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/rostand-medeiros-em-uma-viagem-pela-natal-velha-de-guerra/466200
A
curiosidade e a paixão pelo Rio Grande do Norte, fez de Rostand
Medeiros um pesquisador insaciável pela história potiguar. Sua curtição é
esmiuçar arquivos públicos, acervos privados, documentos oficiais,
fotos antigas, é também conversar com velhas figuras guardiãs da memória
coletiva do Estado. Dessas viagens no tempo que faz, ele retorna com
material bruto que aos poucos transforma em livro. É de sua autoria, por
exemplo, três biografias “João Rufino-Um visionário de fé” (2011),
sobre o criador do grupo industrial 3 Corações, “Fernando Leitão de
Morais-Da Serra dos Canaviais a Cidade do Sol” (2012) e “Eu não sou
herói – A História de Emil Petr” (2012), este sobre um veterano da 2ª
Guerra Mundial.
Por falar em 2ª Guerra, esse é um dos
principais temas de Rostand, ao lado da história da aviação. Sobre
aviação, ele foi coautor de “Os Cavaleiros do Céu: A Saga do voos de
Ferrarin e Del Prete” (2009), que conta a história do primeiro voo sem
escalas entre a Europa e a América Latina; e sobre a 2ª Guerra, lançou
em 2019 “Sobrevoo: Episódios da Segunda Guerra Mundial no Rio Grande do
Norte”.
Mas agora, ao apagar das luzes de 2019,
Rostand surge com novo livro, ainda dentro de seu tema predileto:
“Lugares de Memória – Edificações e estruturas históricas utilizadas em
Natal durante a Segunda Guerra Mundial”. A obra apresenta 27 locais
referentes aquele tempo, a maioria na Ribeira, trazendo curiosidades
quer ajudam a entender como era o dia a dia de Natal naqueles anos
intensos.
O lançamento do livro será no dia 5 de
dezembro, na Livraria Cooperativa Cultural, na UFRN, às 10 horas. A
publicação sai pela Editora Caravela Selo Cultural e conta com o apoio
do Fundo de Incentivo e Cultura de 2018, da Prefeitura de Natal. Sobre o
livro e aquele período, Rostand Medeiros conversou com a TRIBUNA DO
NORTE.
Inventário
Essa pesquisa começou em 2015, quando a
Promotoria de Justiça de Natal me solicitou a elaboração de um relatório
sobre os locais utilizados pelas forças militares americanas em Natal
durante a Segunda Guerra. Listamos 32 locais históricos entre Natal e
Parnamirim. A ideia era incentivar ações de preservação. Mas naquele ano
nada foi feito. Até que no início de 201, o Ministério Público Federal
do RN, preocupado com a situação do Patrimônio Histórico de Natal,
promove uma audiência sobre o tema. Informo sobre o relatório já feito e
sou solicitado para aprofundar as pesquisas. O que fiz, mas focando
apenas em Natal, fechando em 27 locais relacionados a 2ª Guerra. Agora,
com a parceria da Editora Caravela, estou publicando o trabalho em
livro.
Preservar é importante
O livro fala de locais que se não for
feito nada, vão se perder em ruínas. Mesmo com grande parte dos locais
deteriorados, é um material que aponta para existência de uma rota
turística. De todos os meus livros, esse é o que mais me entusiasmou.
Espero que essa publicação possa ser útil, de repente para ajudar na
preservação dos prédios que cito.
Ribeira
Acho que a 2ª Guerra é um dos aspectos
mais proeminentes da história do Rio Grande do Norte. E nisso está a
Ribeira. O bairro já foi o centro de tudo no Rio Grande do Norte.
Roosevelt e Churchill falam de Natal em suas biografias. Arrisco dizer
que naqueles tempos, para os Aliados, referente à Segunda Guerra, Natal
era a cidade mais importante da América do Sul. Você olha para a Ribeira
hoje chega bate uma tristeza. É uma decadência que vem desde os anos
70. Recuperá-la pode dar um boom no turismo histórico.
Descobertas
Muitos dos lugares são conhecidos. A casa
do italiano Lettieri, na Ribeira, onde hoje é o Consulado, está bem
preservada, assim como a Maternidade Januário Cicco, que era o Hospital
Militar de Natal, e o Grande Hotel. Mas ujma das minhas descobertas é o
Rádio Farol, com as antenas enormes. Ficava na Praia da Limpa, um lugar
entre a Fortaleza dos Reis Magos e o Rio Potengi.
Oleoduto
Uma estrutura com história interessante é o
oleoduto Pipeline, que ia até a Base de Parnamirim. Sendo que nas Rocas
há um trecho do encanamento que está visível. Descobri que em 1977 esse
cano chegou a estourar e os moradores aproveitaram para encher tanques
de combustível até secar. Outra coisa legal é que o Colégio 7 de
setembro, na Rua Seridó, no tempo da Guerra era o Quartel dos Marines da
Marinha Americana.
Dois espiões e um francês
Em Natal tinha uma coisa muito curiosa nos
tempos da Guerra. O francês Marcel Girard era representante da Air
France em Natal. Seu escritório ficava na Rua Tavares de Lira. Perto
dali, na Rua Chile, estava aloja de secos e molhados do alemão Ernst
Luck, que ficava no térreo do Àrpege, e a casa do italiano Guglielmo
Lettieri, comerciante conhecido na cidade. Cada um dos três atuava como
representante diplomático de seus respectivos países em Natal. Imagine
só! A Europa em guerra, a França invadida pelos alemães, e os três tendo
de conviver na Ribeira. É provado que Luck espionou para a Alemanha e
Lettieri para a Itália. Os dois foram condenados pelo Tribunal de
Segurança Nacional e ficaram detidos na Colônia Agrícola de Jundiaí. Mas
no fim da Guerra, ambos foram perdoados.
Jornal da BBC
Outra coisa que gostei muito de ter
estudado foi sobre a Agência Pernambucana de Luiz Romão, com seus
difusores espalhados pela cidade. Era algo formidável. Ele retransmitia a
versão em português do jornal da BBC. Foi legal descobrir a importância
da difusora dele. E é uma pena que hoje o local esteja em ruínas.
Grande Hotel
Mas para mim, não tem dúvidas, o Grande
Hotel foi o principal lugar da 2ª Guerra em Natal. Era uma referência
central por receber autoridades americanas. Além de ter a figura forte
de Teodorico Bezerra como seu proprietário. Resgatei muitas histórias no
livro.
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