Canção do Exílio, de Gonçalves Dias (análise do poema)
É um dos poemas líricos mais conhecidos do poeta romântico brasileiro Gonçalves Dias:
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."
Análise do poema
Sem dúvida, a Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, é um dos mais emblemáticos poemas da fase inicial do Romantismo.
Nele, o autor expressa o nacionalismo ufanista (patriotismo exagerado) por meio da exaltação da natureza.
Composto por cinco estrofes, sendo três quartetos e dois sextetos, o autor escreveu esse poema em julho de 1843, quando estava estudando Direito na Universidade de Coimbra, em Portugal. Assim, com saudades de seu país, sentia-se exilado.
Essa saudade fica bastante evidente na última estrofe, em que o poeta expressa o seu desejo de regressar:
"Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;".
Curioso notar que dois versos da Canção do Exílio são mencionados no Hino Nacional Brasileiro, composto em 1822: “Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida, (no teu seio) mais amores”.
Intertextualidade com a Canção do Exílio
Muitos autores parodiaram ou parafrasearam a Canção do Exílio. Têm destaque as versões dos escritores modernistas Murilo Mendes, Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade.
A paródia é um gênero literário, geralmente de caráter crítico, humorístico ou irônico. Ela utiliza a intertextualidade com intuito de recriar um novo texto, com base num texto célebre já existente.
Exemplos de paródias da Canção do Exílio:
- Canção do Exílio, de Murilo Mendes
- Canto de Regresso à Pátria, de Oswald de Andrade
Da mesma maneira, a paráfrase é um tipo de intertextualidade que recria a ideia de um texto já existente, no entanto, utilizando outras palavras.
Exemplos de paródias da Canção do Exílio:
- Nova Canção do Exílio, de Carlos Drummond de Andrade
- Canção do Exílio, de Casimiro de Abreu
Canção do Exílio, de Murilo Mendes
"Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá con certidão de idade!"
Canto de Regresso à Pátria, de Oswald de Andrade
"Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase tem mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo."
Nova Canção do Exílio, de Carlos Drummond de Andrade
"Um sabiá na
palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.
O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.
Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.
Onde tudo é belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá na palmeira, longe.)
Ainda um grito de vida e
voltar
para onde tudo é belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe."
Canção do Exílio, de Casimiro de Abreu
"Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!
O país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
Tão doces duma mãe!
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!"
Gonçalves Dias e o Romantismo
Gonçalves Dias (1823-1864) foi poeta, professor, advogado, teatrólogo, etnólogo e jornalista maranhense da primeira fase do romantismo (1836-1852).
A principal característica desse período foi a busca de uma identidade nacional, expressa pelo binômio nacionalismo-indianismo.
O rompimento do Brasil com Portugal provocou a Independência do Brasil, que aconteceu em 1822.
Esse seria um momento determinante para o desenvolvimento de uma arte que focasse nos aspectos brasileiros.
Por isso, o nacionalismo e o ufanismo são as principais características dessa fase inicial, unidas ao tema do índio, eleito o herói nacional.
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