O poeta popular Paulo Varela é natural do Assu (RN), meu amigo e conterrâneo, considerado um dos melhores poetas populares do Nordeste brasileiro. Paulo é portador de gagueira, um disturbio neurológico que afeta a fala, porém é fluente declamando um poema. Ele já se apresentou no Programa do Jô, da TV Globo, bem como é convidado para apresentar palestras e conferências sobre a sua poesia genuinamente matuta. Poucos dias depois da sua apresentação aquela emissora de televisão apresentou em reprizea em razão de ter sido um sucesso total em todo o Brasil. Ele participa de feiras de artesanatos e da Festa do Boi, em Parnamirim/RN, onde arma um stander (uma casa de taipa, típica do sertão do Nordeste, que ele mesmo constrói), onde vende seus folhetos de cordel e apresenta a sua arte de versejar, nas casas de shoows de Natal. A sua produção literária (poesias e causos populares é extensa, com mais de duas mil composições. Ele, Paulo, também é artista plástico e "se diz um cabôco escrevedô e contadô de causos matutos."
O professor e historiador Edson Aquino Cavalcante escreveu sobre Paulo dizendo que ele "tinha jeito para o desenho artístico, mais tarde resulta neste mestre que deixa todos boquiabertos com a sua capacidade de criação. Sendo hoje um contador de causo de primeira linha."
A propósito da sua entrevista no Programa do Jô, apresentado no dia 2 de fevereiro e reapresentado no dia 21 de março de 2005, o jornal "O Mossoroense", publicou a seguinte nota: "A madrugada do último sábado foi marcada pela presença do poeta popular assuense Paulo Varela no Programa do Jô. O homem deu um verdadeiro show mostrando que a cultura popular é rica (...).
Vamos conferir a sua verve, a sua criatividade poética que agrada a leigos e letrados:
Pro mode dessas doidice
Que temo que escutar
Tanta coisa ripitida
Desses tanto bla-blá-blá
Por isso qui tenho dito
Os versos são mais bunito
Do que esses pocotó
Gente sen arte tá rico
E ouvido não é pinico
E nem também urinó
Faço coisa diferente
Dessas raízes da gente
Pois eu acho mais mió
Falo de nossas sabenças
Das nossas maledecências
Das coisas do mei rurá
Eu falo do sofrimento
Do chicotar do jumento
Do vôo do carcará
Falo do gado magrenho
Da cachaça, do engenho
Do nordestino sofrido
Desse mato ressequido
Do espinho unha-de-gato
Tocaia no mei do mato
Das poça, do lamaçá
Da mãe que dá de mamar
Do aboiar do vaqueiro
Do repicar do ferreiro
Das prece, dos retirante
Dos bando de avuante
Do sol amarelo e quente
Da fome de nossa gente
Cangaia, borná, chucaio
Tropeiro no seu trabaio
Bisaca, xote, capim
Das negas, dos cabra ruim
Viola, moitão, furquia
Do calor do meio-dia
Casa de taipa, forró
Cachorro, gato, socó
Dos cabôco bom de briga
Das gostosas rapariga
Trinchete, alguidá, panela
Do pilão, cabaço e vela
Do luar, da lamparina
Dos perfume das menina
Quengo, feira e caçote
Biqueira, coice, magote
Farinha, feijão, arroz
Do nosso baião-de-dois
Cangapé, foice, matuto
Nossa fé, do nosso luto
Dos andar das romaria
Do repente, cantoria
Das beatas rezadeira
Dos tiros de baladeira
Dos bolão de vaquejada
Dos coriscos, trovoada
Enxada, perneira e pá
Brida, roçado, vasante
Mas vamos mais adiante
Que não parei de falá.
No folder da festa de São João Batista (Padroeiro do Assu) de 2004, está transcrito um poema convite de sua autoria, dizendo assim:
Pros cabôcos que é de fora
Nóis queremo convidá,
Pra beber de nossa água,
Pro móde nóis forrozá.
Ver quadria e buscapé,
Quem sabe arranjá muié,
Cum as cabôcas se insfergá.
Quem sabe arranjá cabôco
Pra sair do caritó,
Pra resolvê seu sufôco.
In nossa festa arretada,
Só vai tê gente educada,
I vai ser coisa de lôco.
Tem mio, canjica e baião,
Pamonha, alfinim, bandeira,
Xote, buchada e fugueira.
Vai tê balão em fileira,
E a novena é de primêra.
Tem corrida de jumento,
Umas bandas de talento,
E um show de alegria.
Eu lhe convido de novo,
Pra tú cunhecê o povo
Da terra da poesia.
Fica registrado um pouco da poesia matuta deste bardo assuense chamado Paulo Varela.
(Fernando Caldas)
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