UM CLÁSSICO SONETO DE JOÃO LINS CALDAS
Por Fernando Caldas
O poeta potiguar do Assu chamado João Lins Caldas (1888-1967) ainda é considerado por alguns nomes conhecedores da literatura brasileira, senão o maior, pelo menos, um dos maiores poetas da língua portuguesa. Pena que continua esquecido e injustiçado das letras nacionais.
Caldas, em 1909, muito jovem ainda, escreveu na então Sacramento, atual Ipanguaçu, terra dos seus antepassados paternos, o clássico soneto intitulado ‘Alma a dentro’, onde diz no terceiro e quarto verso do primeiro quarteto do referenciado soneto: Eu só temo no fim, é o fim daquela aurora / Que fez grande Camões e que é o meu bem supremo “não se referia Caldas apenas à aurora que anuncia o dia, que espalha a luz. Referia-se especialmente ao temor de não compartilhar com a humanidade a sua produção intelectual. O resultado de uma vida inteira dedicada ao manuseio e amor as letras. Resultado esse que já temia não ver repassado ao mundo literário”.
Caldas, “não desejava ver a consumação daquela AURORA, o repasse ao universo intelectual daquele trabalho que era o seu bem supremo.
Com o referenciado soneto, sonhava Caldas ganhar um Prêmio Nobel de Literatura. Pena que não chegou a publicar-se.
Vamos conferir o clássico soneto que tem todas as qualidades para se tornar universal::
Não creiam ser na vida a morte o que eu mais temo.
A dor não me intimida, o mal não me apavora.
Eu só temo no fim, é o fim daquela aurora
Que fez grande Camões e que é meu bem supremo.
Pela morte eu não tremo e pela vida eu tremo.
Mas, a vida, que é mãe e do pesar senhora.
O sonho que me deu pesadamente escora
Com o gosto de querer da glória o sonho extremo.
Esse sonho me doma, esse sonho me arrasta:
Por ele adoro a vida esse profundo inferno
Por ele odeio a morte, essa miséria casta.
Braços dados com a vida, eu de seguir-lhe o norte.
Braços dados com a vida, eu de segui-la eterno
Com os olhos para a vida e os braços para a morte.
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